Abstract:
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Neste trabalho tratamos da faculdade espiritual da vontade sob a perspectiva fenomenológica de Hannah Arendt. Tomamos como base as últimas reflexões arendtianas, que compõem sua obra A vida do espírito, e seguimos seu percurso pela História da vontade com a pretensão de identificar o que de mais significativo Arendt encontrou nos pensadores que escolheu para dialogar, e que a auxiliaram a compor sua própria concepção sobre a vontade. Procuramos mostrar as motivações que a levaram a se ocupar com questões relativas à vida interior ao mesmo tempo em que reconhecemos não apenas que a ação pode ser considerada o mote norteador de toda a sua obra, mas também o fato de que a Filosofia sempre fora o fundamento sólido de suas análises; e para tanto, elencamos as principais características de sua metodologia com o intuito de evidenciar que além de teoria ou ciência política o que Arendt exercitou ao longo de sua existência foi a reflexão filosófica. Identificamos as falácias metafísicas encontradas por ela em seus escritos sobre as atividades mentais, por considerar que sejam o seu ponto de partida no movimento que realizou de desconstrução da metafísica. Mostramos a importância de pensadores da Tradição judaico-cristã, como São Paulo, Santo Agostinho e Duns Scotus, imprescindíveis para que Arendt identificasse tanto a descoberta da vontade como uma faculdade espiritual quanto a noção de contingência, sobre a qual ela se apoia para fundamentar sua noção de vontade livre e causadora de atos. Por defender a ideia de que a vontade é sua própria causa, observamos que Arendt se contrapõe à concepção kantiana da causalidade pela liberdade transcendental (da vontade), e também à defesa de Kant da vontade subjugada à razão prática. Mostramos que, para Arendt, a vontade e o pensamento são atividades mentais distintas e que a coexistência entre elas não é apenas possível, mas necessária. Nesse contexto, abordamos o repúdio ao querer identificado por Arendt, principalmente, em Heidegger, por meio da leitura atenta que ele faz dos escritos nietzschianos. Após este percurso, inferimos que Arendt faz em sua última obra uma fenomenologia da vida interior, posto que tenha se ocupado em identificar as experiências que atestam e confirmam a existência das atividades mentais básicas do pensar, do querer e do julgar. Evidenciamos que o pensamento de Bergson interessa a Arendt para que ela possa fundamentar sua defesa do "eu-quero" como um "dado imediato da consciência" que confirma a existência da faculadade espiritual da vontade. Por fim, mostramos que o pensamento de Hannah Arendt, pela atitude que toma diante da Tradição, e pelo movimento que realiza de desconstruí-la para recuperar as experiências reais das atividades espirituais que se encontram encobertas por camadas de argumentos falaciosos, insere-se no âmbito do pensamento pós-metafísico <br> |