A cosmopolítica da gestação, parto e pós-parto: práticas de autoatenção e processo de medicalização entre os índios Munduruku

DSpace Repository

A- A A+

A cosmopolítica da gestação, parto e pós-parto: práticas de autoatenção e processo de medicalização entre os índios Munduruku

Show full item record

Title: A cosmopolítica da gestação, parto e pós-parto: práticas de autoatenção e processo de medicalização entre os índios Munduruku
Author: Scopel, Raquel Paiva Dias
Abstract: Esta tese é uma etnografia das práticas de autoatenção relativas à gestação, ao parto e ao pós-parto entre os índios Munduruku da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Município de Borba, Amazonas, Brasil. A observação participante foi o eixo central na condução da pesquisa. Procurou-se destacar as especificidades dos saberes Munduruku em um contexto de pluralidade de formas de atenção à saúde. Ao abordar as práticas de autoatenção na gestação, parto e pós-parto, verificou-se que as mulheres Munduruku articularam os saberes indígenas com práticas biomédicas de atenção à saúde, por exemplo, no acompanhamento do pré-natal e em exames junto às equipes de saúde biomédicas, como também respeitando prescrições indígenas relativas às dietas alimentares, banhos, pegar barriga, puxar a mãe do corpo, resguardo, entre outras práticas que interferem diretamente na produção do corpo e da pessoa Munduruku. A etnografia aponta para a construção social do corpo do bebê no interior de relações afetivas inerentes ao grupo primário, como as que se observam no grupo familiar, através de esforços coletivos e individuais de cuidado e apoio mútuo. Em contraste com a abordagem morfogênica presente nas práticas biomédicas de controle do pré-natal, a continuidade de performances das relações afetivas constituem a saúde da mãe, do pai e do bebê para os Munduruku. Deste modo, cumprir ou não determinadas prescrições pode afetar a saúde dos pais e das crianças e impactar sobre o desenvolvimento de uma pessoa, cujas habilidades e capacidades são produzidas desde a gestação. Sob esta perspectiva, pode-se sublinhar a centralidade das motivações pragmáticas como um fator que transpassa as práticas de autoatenção à gestação, parto e pós-parto. A etnografia das práticas de autoatenção à gestação, parto e pós-parto também permitiu compreender o campo de relações cosmopolíticas em que os atores sociais se engajaram ao vivenciar esses processos. Evidentemente, esse engajamento ocorre a partir da cosmografia praticada pelos Munduruku, a qual, pelo se caráter sui generis, está inserida em um contexto histórico, geográfico e social, em que não se pode ignorar a pluralidade médica e de relações interétnicas, marcadas por subjetividades e intencionalidades diversas, algumas vezes convergentes, outras não. Espera-se, assim, contribuir com subsídios para a reflexão crítica sobre as políticas oficiais de atenção à saúde10indígena, especialmente sobre a necessidade de uma atenção diferenciada, em um campo social ainda não consolidado, ou seja, em constante reconstrução.<br>Abstract : This dissertation is an ethnography on the self-care practices related to pregnancy, childbirth, and the post-partum period among the Munduruku indigenous people, from the Kwatá-Laranjal Indigenous Territory, in the Municipality of Borba, Amazonas, Brazil. The central axis for the development of this research was participatory observation. We attempted to highlight the specificities of the Munduruku knowledge in the context of a plurality of ways to provide health care. When approaching self-care practices related to pregnancy, childbirth, and the post-partum period, we realized the Munduruku women have connected indigenous knowledge with healthcare biomedical practices, such as, prenatal care and follow-up exams along with the biomedical teams, while also respecting indigenous prescriptions regarding diets, baths, being with child, pulling the mother from the body, confinement, among other practices that interfere directly with the creation of the Munduruku?s body and person. This ethnography points out to the social construction of the baby?s body within the relations of affection that are inherent to the primary group, such as those observed in the family group, through collective and individual efforts to promote mutual support and care. In contrast with the morphogenic approach found in prenatal control biomedical practices, the continuity of performances related to such relations of affection constitute the health of the mother, the father, and the baby for the Munduruku people. Complying or not with some prescriptions may affect both the parents and children's health and have an impact on the development of a person, whose abilities and skills begin to be shaped during pregnancy. Under this perspective, we can stress the centrality of pragmatic motivations as a factor that overcomes self-care practices on pregnancy, childbirth and the post-partum period. The ethnography of the self-care practices related to pregnancy, childbirth, and the post-partum period has also allowed us to understand the field of the cosmopolitical relations these social players have engaged in while experiencing these processes. Obviously, such engagement takes place from the cosmography practiced by the Munduruku, which, due to its sui generis character, is included in a historical, geographical, and social context, in which one cannot ignore the medical plurality and inter-ethnic relations,12characterized by several subjectivities and intentionalities, which sometimes are converging, while some other times are not. We thus hope to contribute with subsidies for a critical consideration of official healthcare policies for the indigenous people, especially regarding the need for customized care, in a social field that is yet to be identified, that is, which is under constant reconstruction.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2014.
URI: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/129172
Date: 2014


Files in this item

Files Size Format View
327838.pdf 1.558Mb PDF View/Open

This item appears in the following Collection(s)

Show full item record

Search DSpace


Browse

My Account

Statistics

Compartilhar