Abstract:
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Já em 1486 e 1492, Antonio de Nebrija e o Bispo de Ávila, bem como Nicolò Maquiavel, em 1513, perceberam a relação entre linguagem e império. A presente dissertação examina essa relação, com ênfase no efetivo processo de colonização de um povo e seu território. Seguindo Alfredo Bosi, entendo colonialismo como um processo totalitário que afeta o presente, o passado e o futuro, assim como os níveis físico e metafísico. Minha hipótese é que um processo de colonização pode ser percebido em A Tempestade de William Shaskespeare e que o domínio sobre a linguagem é um fator decisivo para esse processo. Minha análise baseia-se, principalmente, na teoria e crítica literária pós-colonial. No Capítulo I, faço uma revisão geral da crítica produzida sobre A Tempestade, desde a Restauração até os dias de hoje, que, de uma forma ou de outra, lida com as questões de imperialismo e colonialismo. No Capítulo II, aponto, em um panorama assimétrico de confronto cultural, o que considero importantes implicações temáticas e interpretativas acerca da suposta ausência de linguagem de Caliban. No Capítulo III, trabalho com o efetivo processo de colonização de Caliban e sua ilha por parte de Prospero e Miranda, o que causa seu desapossamento e sua escravização. No Capítulo IV, analiso algumas apropriações caribenhas da peça (The Pleasures of Exile de George Lamming, Une Tempête de Aimé Césaire, "Caliban" de Edward Brathwaite e Caliban de Roberto Fernández Retamar), apontando como esses autores lidam com essa relação entre linguagem e imperialismo, já em um contexto pós-colonial. Na conclusão, demonstro que um processo de colonização pode, de fato, ser percebido em A Tempestade e que a assimilação de uma língua européia é crucial para esse processo. Através da análise de algumas apropriações de A Tempestade, reforço a noção de que é também necessariamente através da linguagem que Caliban pode livrar-se da colonização de Prospero e Miranda, reconstruindo sua própria identidade. |