Abstract:
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O processo de ocupação do Oeste de Santa Catarina afetou profundamente todos os indivíduos que antes faziam uso do território. O estabelecimento da nova política de ocupação e da definição do tipo ideal de indivíduo para o local, o imigrante ou descendente de europeu, fez com que os antigos ocupantes, indígenas e caboclos, tentassem resistir a perda do território. As construções de identidades e as relações de alteridade entre os colonos, vistos como sinônimos de esforço e progresso, e os caboclos, como sinônimos de atraso e preguiça, estão intimamente ligadas as constantes (re)negociações das etnicidades da região. Essa (re)negociação esteve presente ao longo da história de Chapecó, inclusive em um acontecimento na década de 1950. Após a prisão de dois acusados pelos incêndios da igreja e de uma serraria, o delegado, junto com alguns moradores locais, tortura e maltrata os presos em busca de outros culpados. Os depoimentos acabam por apontar dois irmãos, da família Lima, um deles como líder do grupo e o outro como responsável pelo incêndio do Clube Recreativo Chapecoense. Os moradores locais passavam por um período de muita tensão devido à onda de boatos espalhados, do incêndio da igreja e do consequente abalo da própria identidade que haviam construído desde o início da colonização. Toda essa tensão eclode na noite de 18 de outubro de 1950, onde alguns grupos de moradores, motivados por questões religiosas e liderados por pessoas que estavam ligadas às elites locais, invadiram a cadeia, lincharam os presos e atearam fogo aos corpos. Após o ocorrido um processo foi instaurado para que os autores e participantes do linchamento fossem condenados pelos seus atos. Várias mudanças ocorreram ao longo do processo, com novas afirmações e acusações, desavenças antigas ressurgem, algumas motivações pessoais vieram à tona, enfim, através dos depoimentos, aspectos das relações sociais e da vida na comunidade de Chapecó puderam ser observados. Através da análise da fonte documental, o processo-crime, foi possível observar alguns aspectos da vida local e as construções das relações de alteridade, nas quais o linchamento se tornava uma medida possível e justificável para eliminar o “outro”. |