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Esta dissertação discute sobre o aborto em dois veículos de comunicação: Portal Geledés e jornal Folha de São Paulo. A partir do feminismo decolonial, investigou-se a maneira como o tema é abordado pelas duas mídias, suas particularidades, aproximações e contrastes. Considerou-se, ainda, a miríade de elementos e de entrelaçamentos de realidades projetadas nas notícias, e que contribuem para criar narrativas sobre a temática e identidades às mulheres envolvidas. Para tanto, tomou-se como centralidade analítica os marcadores de raça, classe e gênero. Um breve resgate histórico da teoria política feminista, do desenvolvimento das mídias e da construção das notícias jornalísticas situaram a discussão. A pesquisa teve como marco temporal o período em que o deputado Marco Feliciano esteve na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (7 de março de 2013 a 26 de fevereiro de 2014), sendo os dados organizados mediante a análise de conteúdo. Os principais resultados apontaram que o debate sobre o aborto no Boletim Geledés e na Folha tem cor, protagonistas, posições políticas e um olhar genderificado . No geral, as matérias veiculam um conteúdo sobre pessoas brancas , havendo, mesmo no Portal Geledés, uma secundarização, quando não uma ausência , da realidade das mulheres não brancas, que são as mais vulneráveis pelos indicadores de saúde. De certo modo, há uma reatualização do contra e do a favor , com narrativas mais contundentes e a partir de outras estratégias, que não se limitam às dicotomias. Estas revisitam os argumentos cristãos e científicos, este último figurando na Folha como residual e situado no campo da saúde pública, sendo proferido por profissionais masculinos. Se na Folha essa polaridade se apresenta, em Geledés, o discurso volta-se para o campo dos direitos sexuais e reprodutivos, feito por mulheres militantes. Considerou-se que a religiosidade cristã e a colonialidade do saber são elementos significativos no processo de construção de notícias relacionadas ao aborto, o que evidencia a maneira como o fenômeno é abordado em nosso contexto atual. Aparentemente, os resultados apontam para a veiculação de conteúdos polarizados, no entanto, as imbricações e reproduções de valores instituídos estão nas notícias tanto de Geledés quanto da Folha, o que acaba por encobrir a complexidade do fenômeno do aborto em seus contextos brasileiro e latino-americano. Em suma, as notícias carecem de situar as mulheres que habitam os discursos relacionados ao tema, não somente pela subjetividade dessas sujeitas, mas também pelas múltiplas dimensões do contexto que estas se inserem. |
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