Avaliação quantitativa de risco microbiológico: estudo de caso aplicado ao uso recreativo do balneário da Beira Mar Norte, Florianópolis/SC

Abstract

Os impactos gerados por ações antropogênicas nos corpos hídricos podem ser observados pelo aumento de organismos patogênicos e as doenças veiculadas por estes agentes. Em 2019, foi inaugurado o tratamento que tem como objetivo despoluir o balneário da Beira Mar Norte, principal avenida da cidade de Florianópolis/SC. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar o risco microbiológico à saúde humana associado ao uso recreativo deste balneário, considerando atividades de contato primário e secundário. Foram utilizadas a base de dados de concentrações de Escherichia coli (E.coli) disponibilizada pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, assim como concentrações de Adenovírus Humano (HAdV) coletadas entre 2009 e 2011. O método de Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico foi aplicado utilizando o software @Risk para três cenários de exposição. O cenário 1 avalia o risco microbiológico para E.coli e HAdV entre 2009 e 2011; o cenário 2 avalia o risco microbiológico para E.coli no ano de 2019, antes e depois do início do tratamento no balneário e o cenário 3 analisa o risco microbiológico associado aos limites de E.coli exigidos pela Resolução CONAMA 274/00. A análise foi feita considerando atividades de contato primário (nado) e de contato secundário (remo, pesca e passeios de barco), para adultos e crianças. Para todos os cenários, o risco é referente a uma atividade recreacional com uma hora de duração. Adotou-se um volume de ingestão de água 2,31 vezes maior para crianças do que para adultos. Para o microrganismo E.coli, foi considerado que apenas 8% são patogênicos. Os resultados mostraram que crianças praticando atividades de contato primário são o maior grupo de risco, para todos os cenários. O cenário 1 mostrou que os intervalos de risco referentes ao patógeno HAdV apresentam valores maiores quando comparado com E.coli. Além disso, nesse período somente 8% das análises de E.coli realizadas pelo IMA se apresentaram de acordo com os limites da CONAMA 274/00. Os resultados para o cenário 2 apresentaram uma leve diminuição dos valores de intervalo de risco após a inauguração do tratamento na URA Beira Mar, para todas as situações observadas. Outro fator observado é que após a implementação do tratamento o número de análises em acordo com a Resolução 274/00 foi de zero para 26%. Já o resultado do cenário 3 mostrou que mesmo a menor concentração exigida pela Resolução CONAMA 274/00 (classificação Excelente) apresenta um risco microbiológico considerável. Para esta classificação, os valores encontrados foram de 9,24% e 7,82% para crianças e adultos em atividades de contato primário e de 3,84% e 1,62% para crianças e adultos em atividades de contato secundário. Os resultados mostram que, mesmo quando as concentrações estão abaixo dos limites exigidos pela Resolução CONAMA 274/00, o risco microbiológico associado à contaminação por E.coli e HAdV no uso recreativo da Beira Mar Norte ainda está acima do limite tolerável de 0,01% indicado pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, o patógeno HAdV apresentou um risco maior quando comparado com E.coli, indicando a importância do monitoramento de vírus entéricos como critério de balneabilidade.