Abstract:
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Introdução: O tabagismo é considerado um sério problema de saúde pública. Existem aproximadamente 21% de ex-fumantes na população brasileira. Conhecer as motivações, as dificuldades e os fatores associados à cessação desta população é de grande importância para futuras formas de abordagens.
Objetivo: Descrever o perfil sociodemográfico e tabágico de pacientes ex-tabagistas atendidos no HU-UFSC, bem como as características ligadas à cessação tabágica (tempo de cessação, motivações e dificuldades na cessação). Comparar os ex-tabagistas quanto ao sexo, grau de dependência, carga tabágica e tempo de cessação.
Método: Foi realizado um estudo transversal, descritivo e analítico, com delineamento prospectivo e aplicação de questionário semi-estruturado. A população estudada foi composta por sessenta pacientes ex-tabagistas atendidos no HU-UFSC. Foram realizadas: análise descritiva dos dados relacionados ao tabagismo e cessação; análise comparativa entre sexo, grau de dependência, carga tabágica e tempo de cessação.
Resultados: A população entrevistada foi composta por 65% de homens. A mediana de idade foi de 61,5 anos. Metade dos pacientes tinha menos de 8 anos de escolaridade. A renda familiar mediana dos participantes foi de 2,5 salários mínimos. Quase metade (48,4%) apresentou grau elevado ou muito elevado de dependência. A mediana do número de cigarros fumados por dia foi de 20, da carga tabágica foi de 30 anos/maço e do tempo de exposição ao fumo foi de 30 anos. A maioria dos pacientes relata ter iniciado o tabagismo por influência de amigos (60%). Os principais gatilhos que faziam os pacientes fumar foram: após as refeições (86,7%) e beber café (76,7%). O principal motivo para a cessação do tabagismo foi a preocupação com a saúde (70%). A mediana de tempo de cessação foi de 17 anos e uma tentativa de cessação anterior. A maioria expressiva (83,3%) não utilizou nenhum recurso para parar de fumar. Ao se comparar pacientes do sexo masculino com o feminino, observou-se que mulheres (66,6% x 23%) relatam mais constrangimento por fumar, p < 0,00, e medo de engordar (33,3 x 5,1%), p = 0,02. Pacientes com elevado grau de dependência, demonstraram IMC mais elevado, p = 0,00, e cessaram há menos tempo (15,5 x 24,9 anos), p = 0,047. Ex-tabagistas com alta carga tabágica, se diferenciaram por serem homens (80%), p=0,04, e relatar 20 anos ou mais de exposição ao tabaco (91,5%), p=0,00. Aqueles que cessaram há mais tempo (> 15 anos) relataram menos situações de constrangimento pelo ato de fumar p=0,01. Pacientes com menos tempo de cessação referiram o medo dos sintomas de estresse, p= 0,01, depressão, p= 0,02, e ansiedade, p= 0,00, com maior frequência.
Conclusão: Ex-tabagistas eram homens próximos aos 60 anos, iniciaram o tabagismo precocemente com dependência nicotínica e carga tabágica expressivas. A grande maioria cessou devido à preocupação com a saúde e não utilizou nenhum recurso durante este processo. Restrição do fumo em ambientes fechados auxiliou na cessação, principalmente em mulheres. O medo dos sintomas de ansiedade e o contato com fumantes dificultaram a cessação. O medo de engordar e dos sintomas de estresse e depressão dificultaram o abandono do cigarro nas mulheres. Os mais dependentes hoje tem maior IMC. Incentivo ao cumprimento das leis de restrição ao tabaco, às campanhas de motivação e abordagens de rotina com especial atenção ao controle de peso, ansiedade e depressão são fundamentais. |