A escola e a tensão permanência/saída de jovens das unidades familiares de produção e de um munícipio “essencialmente rural”, em estudo em Itaiópolis.

Abstract

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como foco os jovens do campo, no munícipio essencialmente rural de Itaiópolis (SC), mais especificamente aqueles que ainda permanecem com atividades na agricultura familiar. Buscou-se refletir sobre as possíveis relações da escola com a permanência de seus estudantes na agricultura ou, ao contrário, a saída, por esses sujeitos, das Unidades Familiares de Produção e, de forma mais geral, do município. Para a consecução desse objetivo, foram realizadas sete entrevistas estruturadas, baseadas em um questionário e ouvidos professores das áreas da Ciência da Natureza e Matemática e a direção da Escola de Educação Básica Antônio Blaskowski, buscando identificar as formas como são trabalhadas questões ligadas ao campo e à agricultura. Todo o material colhido foi sistematizado e analisado. Os resultados indicam que a escola é um fator para a saída dos jovens de UFP e de municípios rurais. Não é, contudo, o único. Os entrevistados apontam que pais e, especialmente as mães, incentivam seus filhos e, notadamente, as filhas a deixar a UFP e o próprio município e buscar uma "vida melhor" ou, no mínimo, "menos sofrida". Outro fator importante para a saída também é interno às UFP – e à agricultura familiar. Trata-se da falta de diálogo entre os familiares, pesando o autoritarismo do patriarcado e do "chefe-de-família". A falta de reconhecimento (ou "enquadramento") do/da jovem e da agricultura familiar pelos instrumentos de políticas públicas agrárias e agrícolas (especialmente o crédito) também foram apontados pelos entrevistados como dificuldades que pressionam para a saída da UFP e do município rural. As entrevistas mostram, da mesma forma, que os jovens permanecem na Unidade Familiar de Produção até a conclusão do Ensino Médio. Isso se dá porque o transporte casa-escola-casa é assegurado e compatibiliza, de certa forma, o trabalho (considerado como "ajuda") na agricultura com o estudo. Após o término dessa etapa, uma parcela importante sai das UFP, para "trabalhar fora" e "ter uma profissão, ou para dar continuidade aos estudos (antes, na EJA, hoje em "faculdades"). Também há os que retornaram a UFP depois da realização de cursos técnicos, que consideraram determinantes para dar continuidade ao trabalho na agricultura e à gestão da "propriedade". As entrevistas revelam, ainda, que Itaiópolis é visto como município que não tem atrativos para os jovens e eles tendem a buscar municípios maiores. Os resultados apontam, além disso, que as unidades escolares de Itaiópolis, ao invés de combater o preconceito (e o bullying dele decorrente) em relação aos estudantes do campo, acabam o reforçando. Finalmente, que a falta de qualificação aos docentes das escolas, assim como as condições de trabalho a que são submetidos (por exemplo, em relação às horas-atividade) fazem com que eles trabalhem apenas com materiais didáticos, não considerando as especificidades e interesses dos estudantes, que são sujeitos do campo.

This Course Conclusion Paper (TCP) focuses on young people from the countryside, in the essentially rural municipality of Itaiópolis (SC), more specifically those who still have activities in family farming. We tried to reflect on the school's possible relations with the permanence of its students in agriculture or, on the contrary, the departure, by these subjects, of the Family Production Units and, more generally, of the municipality. To achieve this objective, seven structured interviews were carried out, based on a questionnaire and heard by teachers in the areas of Nature Science and Mathematics and the direction of the Antônio Blaskowski School of Basic Education, seeking to identify the ways in which issues related to the field and to agriculture. All the material collected was systematized and analyzed. The results indicate that school is a factor in the departure of young people from UFP and rural municipalities. However, it is not the only one. Respondents point out that fathers and, especially mothers, encourage their sons and, notably, daughters to leave UFP and the municipality itself and seek a "better life" or, at least, "less suffered". Another important factor for the exit is also internal to UFP - and family farming. It is the lack of dialogue between family members, despite the authoritarianism of patriarchy and the "head of the family". The lack of recognition (or "framing") of the youth and family agriculture by the instruments of public agrarian and agricultural policies (especially credit) were also pointed out by the interviewees as difficulties that pressure the exit of UFP and the rural municipality. The interviews show, in the same way, that young people remain in the Family Production Unit until the completion of high school. This is because the home-school-home transport is assured and, in a way, makes work (considered as "help") in agriculture compatible with the study. After the end of this stage, an important part leaves the UFP, to "work outside" and "have a profession, or to continue their studies (before, at EJA, today in" colleges "). There are also those who returned to UFP after the completion of technical courses, which they considered decisive to continue the work in agriculture and the management of "property." The interviews also reveal that Itaiópolis is seen as a municipality that has no attractions for young people and they tend to seek municipalities The results show, moreover, that the school units in Itaiópolis, instead of fighting prejudice (and the resulting bullying) towards students in the field, end up reinforcing it. Finally, that the lack of qualifications for teachers in schools, as well as the working conditions to which they are subjected (for example, in relation to the activity hours) make them work only with didactic materials, not considering the expectations specificities and interests of students, who are subjects of the field.