A jornada interminável: a experiência no trabalho reprodutivo no cotidiano das mulheres rurais

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A jornada interminável: a experiência no trabalho reprodutivo no cotidiano das mulheres rurais

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Title: A jornada interminável: a experiência no trabalho reprodutivo no cotidiano das mulheres rurais
Author: Herrera, Karolyna Marin
Abstract: Nesta tese me proponho a refletir sobre o trabalho reprodutivo que as mulheres realizam em contextos rurais, a partir do diálogo com estudiosas da sociologia do trabalho e da sociologia rural, sobretudo aquelas que fazem interface com as temá¬ticas de gênero e trabalho. Parto do questionamento acerca da concepção do trabalho doméstico e de cuidados, originária no âmbito da produção do conhecimento social e não do cotidiano da vida des¬sas mulheres. Nesse sentido, argumento sobre a impossibilidade de analisar o trabalho reprodutivo realizado por agricultoras familiares em toda a sua dimensão, sem que se considere a experiência das próprias mulheres, a partir da vivência cotidiana nas famílias e nas configurações sociais em que estão inseridas. É no diálogo com categorias como trabalho doméstico, cuidados, tempo e experiência, incorporadas a uma perspectiva feminista, que busco apontar alguns aspectos para a construção de uma perspectiva analí¬tica que permita compreender o sentido que as próprias mulheres imprimem ao trabalho reprodutivo. A presente tese se justifica na medida em que pretende contribuir com uma nova abordagem teórico-metodológica sobre o trabalho reprodutivo realizado por mulheres rurais, relativamente a duas lacunas específicas: a ausência de pesquisas na sociologia rural sobre a experiência de mulheres no trabalho doméstico e de cuidados; e a inexistência de estudos sobre a realidade rural nas pesquisas sobre gênero no âmbito da sociologia do trabalho. O objetivo principal desta pesquisa foi o de contribuir para a compreensão do cotidiano das mulheres rurais no trabalho doméstico e de cuidados. Para atingir tal escopo, foram realizadas entrevistas narrativas de caráter biográfico e observação etnográfica com mulheres residentes na região oeste de Santa Catarina. Foi possível apreender que a experiência cotidiana das mulheres no trabalho reprodutivo é construída ao longo da vida, desde a infância, momento em que são iniciadas nos trabalhos doméstico e de cuidados, até as configurações familiares a que pertencem na atualidade. O casamento surge para elas como um marcador temporal na experiência com o trabalho reprodutivo, pois representa o momento em que elas deixam de conviver sob a autoridade do pai e passam a conviver sob a autoridade do marido ou do sogro. Observa-se que, ao contrário da visão essencialista, que julga que realizar os serviços domésticos e de cuidados é inerente do ser mulher, a experiência no trabalho reprodutivo vai sendo tecida progressivamente, conforme as necessidades das pessoas, dos animais e das plantas. Na execução das tarefas cotidianas opera as qualidades morais da atenção, da responsabilidade, do afeto e da obrigação. O sentimento de culpa aparece também em contraponto a noção de responsabilidade. Os cuidados são concebidos como relacionais, criando-se uma rede de interdependência estabelecidas entre os agricultores familiares. Nesta rede de interdependência é notável como as configurações sociais em que estão inseridas afeta a experiência das mulheres no trabalho reprodutivo. É neste sentido, que a forma como a herança da terra foi forjada na vida das mulheres influencia na carga de trabalho cotidiano. Assim como, opera a questão racial, situação na qual as mulheres caboclas são mais sobrecarregadas que as de ascendência europeia não-ibérica. Também foi possível evidenciar que a dicotomia produtivo e reprodutivo não é suficiente para explicar a experiência do trabalho das mulheres rurais em suas vidas cotidianas. As mulheres fluem de uma esfera a outra, tanto que denominam as atividades em trabalho de dentro e trabalho de fora da casa, separando espacialmente suas ações, uma vez que elas atuam conforme as necessidades que surgem no dia, independente da natureza do trabalho. Também foi possível evidenciar que a decisão sobre o sistema produtivo considerado, pela visão androcêntrica dominante, como o espaço masculino por excelência, é influenciada pela estrutura de cuidados da família, o que corrobora que os cuidados são um eixo organizador das relações sociais.Abstract : In this thesis, I propose to reflect on the reproductive labor that women perform in rural contexts, parting from a dialogue with scholars who study the sociology of work and rural sociology, especially those that create an interface with gender and work. I start with questioning the conception of domestic work and care, originating with the production of social knowledge and not from the everyday life of these women. In this point, I argue about the impossibility of analyzing the reproductive labor performed by female family farmers in all their dimensions, without considering the experience of the women themselves, based on the everyday life of the families and in the social settings in which they are inserted. It is in the dialogue with categories such as housework, care, time and experience, incorporated into a feminist perspective, that I try to point out some aspects for the construction of an analytical perspective that allows the understanding of how women themselves imprint on reproductive labor. This thesis is justified because it intends to contribute to a new theoretical-methodological approach on the reproductive work carried out by rural women, regarding two specific gaps: the lack of research in rural sociology on the experience of women in domestic work and care, and; the lack of study on rural reality in gender research in the field of sociology of work. The main objective of this research was to contribute to the understanding of rural women's daily routine in domestic work and care. To reach this scope, narrative biographical interviews and ethnographic observation were carried out with rural women residing in the western region of Santa Catarina. It was possible to perceive that the daily experience of women in reproductive work is built throughout life, from childhood, when they begin in domestic work and care, to the family settings to which they belong today. Marriage appears to them as a temporal marker in the experience of reproductive work, for it represents the moment when they cease to live under the authority of their father and live under the authority of their husband or father-in-law. It is observed that, contrary to the essentialist view, which considers that to perform domestic services and care is inherent to being a woman, experience in reproductive labor is gradually woven according to the needs of people, animals and plants. In the execution of everyday tasks, the moral qualities of attention, responsibility, affection, and obligation operate. The sense of guilt also appears in counterpoint to the notion of responsibility. Care is conceived as relational, creating a network of interdependence established among family farmers. In this network of interdependence, it is remarkable how the social settings in which they are inserted affects the experience of women in reproductive work. It is in this sense that the way the inheritance of land was forged in women's lives influences the daily workload. As well as that, there is a racial issue, in which female caboclos are more burdened than those of non-Iberian European descent. It was also possible to show that the productive and reproductive dichotomy is not enough to explain the experience of rural women's work in their daily lives. Women flow from one sphere to another, so much that they call the activities in \"work from within\" and \"outside work\" of the house, spatially separating their actions, since they act according to the needs that arise in the day, regardless of the nature of the work. It was also possible to show that the decision on the productive system, considered by the dominant androcentric vision as the masculine space par excellence, is influenced by the care structure of the family, which corroborates that care is an organizing axis of social relations.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Florianópolis, 2019.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/204552
Date: 2019


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