A suplementação de óleo rico em ácido palmitoleico pode ser uma estratégia não farmacológica para modificar alterações metabólicas induzidas por dieta hiperlipídica em camundongos?

Abstract

Dietas hipercalóricas e hiperlipídicas são utilizadas como modelos experimentais para indução da obesidade. Além da obesidade, dietas com alto teor de gordura provocam alterações metabólicas associadas ao aumento da adiposidade corporal. Assim, intervenções não farmacológicas têm sido utilizadas para frear o desenvolvimento de comorbidades relacionadas a obesidade. Entre as intervenções nutricionais estão a mudança na qualidade da dieta e incorporação de gorduras mono e poli-insaturadas. O ácido graxo palmitoleico, representante da família ômega-7, tem sido investigado como estratégia para reverter as comorbidades. Por conseguinte, buscamos avaliar o efeito da ingestão de óleo rico em ácido palmitoleico para prevenir ou atenuar as alterações metabólicas induzidas por dieta hiperlipídica. Assim, 134 camundongos Swiss foram divididos em: FASE I animais que receberam dieta padrão ou hiperlipídica (58%) por 28 dias. Posteriormente, os animais foram divididos novamente em FASE II Controle (C), Controle Óleo (CO), (High Fat Diet) HFD, High Fat Diet + Óleo HFDO, Reversibilidade (REV) e Reversibilidade Óleo (REVO) por mais 28 dias. A FASE II corresponde a fase de suplementação com óleo rico em ácido palmitoleico (50%) na dose de 1g/Kg/dia). Outros protocolos de suplementação também foram testados: 28 dias de dieta hiperlipídica com óleo rico em ácido palmitoleico e 56 dias dieta hiperlipídica com óleo rico em ácido palmitoleico. Foram determinados parâmetros metabólicos relacionados às alterações provocadas pela dieta hiperlipídica. Após 28 dias de dieta hiperlipídica os animais HFD apresentaram aumento da massa corpora, menor tolerância à glicose, menor sensibilidade à insulina, aumento no conteúdo de triacilgliceróis hepáticos e colesterol total sérico. A retirada da dieta hiperlipídica promoveu melhora em todos os parâmetros analisados, revertendo todas as alterações metabólicas do consumo de dieta com alto teor de lipídeo: massa corporal, tolerância à glicose, sensibilidade à insulina, triacilglicerol e colesterol total séricos e hepáticos. Porém, no grupo REVO a ingestão de óleo não surtiu efeito nos parâmetros analisados. Ademais, a ingestão de óleo rico em ácido palmitoleico nos animais que receberam dieta hiperlipídica reduziu a glicemia de jejum, melhorou a sensibilidade à insulina e reduziu a concentração de colesterol total sérico, embora não tenha reduzido a massa corporal e adiposa. Por conseguinte, a ingestão de óleo junto com o início da dieta hiperlipídica, por 28 dias, preveniu o desenvolvimento de intolerância à glicose e resistência à insulina e também foi capaz de prevenir o aumento nas concentrações séricas de colesterol e adiar o acúmulo de triacilgliceróis no fígado e aumento da massa adiposa. Entretanto, com 56 dias de exposição à dieta hiperlipídica e óleo rico em ácido palmitoleico, os efeitos nocivos da dieta se sobrepuseram aos efeitos benéficos do óleo quando comparadas as massas corporais e adiposas dos animais. Porém, mesmo com o desenvolvimento da obesidade, o óleo conseguiu prevenir a intolerância à glicose por mecanismo independente da sensibilidade à insulina. A ingestão de óleo reduziu as concentrações séricas de colesterol total, embora não tenha surtido efeito na prevenção da esteatose hepática e aumento da massa adiposa. Concluímos que a ingestão de óleo rico em ácido graxo palmitoleico pode ser eficaz para prevenir, atenuar ou tratar as alterações metabólicas induzidas por dieta hiperlipídica. Contudo, os resultados dependem do momento de início e duração da suplementação, sendo mais promissores quando a suplementação com óleo 50% palmitoleico inicia junto com a ingestão de dieta hiperlipídica.

Abstract : Hypercaloric and high fat diets are used as experimental models for induction of obesity. In addition to obesity, high-fat diets provoke metabolic changes associated with increased body adiposity. Thus, non-pharmacological interventions have been used to curb the development of obesity-related comorbidities. Among the nutritional interventions, are the change in diet quality and incorporation of mono and polyunsaturated fats. Palmitoleic acid, representative of the omega-7 family, has been investigated as a strategy to reverse comorbidities. Therefore, we sought to evaluate the effect of oil-rich palmitoleic acid ingestion to prevent or attenuate the metabolic changes induced by a high fat diet. Thus, 134 Swiss mice were divided into: PHASE I animals that received standard or hyperlipidic diet (58%) for 28 days. Afterwards, the animals were again divided into Phase II Control (C), Control Oil (CO), High Fat Diet HFD, High Fat Diet + HFDO Oil, Reversibility (REV) and Reversibility Oil (REVO) for another 28 days. Phase II corresponds to the phase of supplementation with oil rich in palmitoleic acid (50%) at a dose of 1g / kg / day). Other supplementation protocols were also tested: 28 days of high fat diet with oil rich in palmitoleic acid and 56 days high fat diet with oil rich in palmitoleic acid. Metabolic parameters related to changes caused by the high fat diet were determined. After 28 days of high fat diet, HFD animals presented increased body mass, lower glucose tolerance, lower insulin sensitivity, increased hepatic triacylglycerol content, and total serum cholesterol. The withdrawal of the high fat diet promoted improvement in all analyzed parameters, reverting all the metabolic alterations of diet consumption with high lipid content: body mass, glucose tolerance, insulin sensitivity, triacylglycerol and total serum and hepatic cholesterol. However, in the REVO group the oil intake had no effect on the analyzed parameters. In addition, the ingestion of palmitoleic acid-rich oil in animals receiving a high-fat diet reduced fasting glucose, improved insulin sensitivity, and reduced serum total cholesterol concentration, although it did not reduce body mass and fat. Therefore, the ingestion of oil together with the onset of the hyperlipidic diet for 28 days prevented the development of glucose intolerance and insulin resistance and was also able to prevent the increase in serum cholesterol concentrations and postpone the accumulation of triacylglycerols in the liver and increased fat mass. However, with 56 days of exposure to the high fat diet and palmitoleic rich oil, the harmful effects of the diet overlapped with the beneficial effects of the oil when compared to the body and fat masses of the animals. However, even with the development of obesity, the oil was able to prevent glucose intolerance by an independent mechanism of insulin sensitivity. The ingestion of oil reduced the serum concentrations of total cholesterol, although it did not have an effect in the prevention of hepatic steatosis and increase of fat mass. We conclude that ingestion of oil rich in palmitoleic fatty acid may be beneficial in preventing, attenuating or treating the metabolic changes induced by a high fat diet. However, the results depend on the starting time and duration of supplementation, and are more promising when 50% palmitoleic oil supplementation begins with the high fat diet.