Title: | O problema estrutural da justificação epistêmica |
Author: | Rocha, Allysson Vasconcelos Lima |
Abstract: |
No problema do regresso, a justificação de uma crença por meio de razões ocorre por três vias, segundo o cético: a interrupção das razões inferidas; repetir razões já oferecidas anteriormente na cadeia; ou continuar apresentando razões por meio de inferências que tendem ao infinito. A interrupção representa uma atitude arbitrária. Repetir razões resulta em um raciocínio circular vicioso. Para evitar estes caminhos, recai-se em um regresso ao infinito, uma situação ora de indefinição, ora incoerente com os limites cognitivos de um ser-humano. O resultado é a ausência de uma explicação de como se estrutura a justificação epistêmica. A minha tese é a de que um determinado tipo de postura epistemologicamente responsável é componente necessário da estrutura da justificação epistêmica, caso a estratégia para solucionar o problema estrutural da justificação seja centrada em como uma pessoa lida com a arbitrariedade. Para tanto, defendo duas premissas mais abrangentes. Na primeira, argumento que um aspecto central no problema da estrutura da justificação é a arbitrariedade epistêmica. Na segunda, argumento que, caso a estratégia para lidar com o problema determine que a pessoa deva reconhecer o que justifica sua crença, há um nível de arbitrariedade que não é possível eliminar. Dessa maneira, é preciso que a pessoa assuma a responsabilidade por esta situação. Tal responsabilidade constitui, ao final, um meio de acreditar, onde a pessoa justificadamente acredita em dois conteúdos: que ela, em sua situação, está justificada em acreditar em um conteúdo; e que, para além de sua situação, pode não estar justificada em acreditar no mesmo conteúdo. A aparente inconsistência dos dois enunciados é afastada quando explico a existência de dois tipos de justificação envolvidas, assim como o caráter fragmentado da estrutura da justificação que defendo. Após curta introdução, defendo a primeira premissa no capítulo dois. Analiso, então, como diferentes autores formulam o problema, indicando diferenças nas formulações. Explico essas diferenças como relacionadas a distintas intuições sobre justificação epistêmica. Abordo, então, as dificuldades de se lidar com intuições neste tema, argumentando que há um sério risco de os autores incorrerem em arbitrariedade em suas teorizações. Ao mostrar como este risco se estende para além da discussão teórica, defendo a importância da arbitrariedade como um todo no entendimento do problema, explicando-a estratégica na tentativa de solucioná-lo. Encerro o capítulo direcionando uma estratégia a ser explorada nos demais. Nela, quem justifica suas crenças deve, ao menos, ser capaz de reconhecer o que contribui para a justificação. A segunda premissa é defendida nos capítulos três e quatro, onde discuto três respostas ao problema. No terceiro, eu discuto a estratégia fundacionista do conservadorismo fenomênico, onde o regresso pode ser interrompido por um estado mental que tanto eliminaria a arbitrariedade como unificaria distintas noções de justificação epistêmica. Infelizmente, ambos os objetivos são frustrados. Por isso, exploro duas outras estratégias no capítulo quatro: coerentismo e infinitismo. As duas vertentes são avaliadas, em casos particulares, em sua capacidade de arcar com um princípio estrutural que, se obedecido, permitiria a eliminação da arbitrariedade. O coerentismo falha neste requisito, o infinitismo, não. Entretanto, ao contrário do que se esperava, atender ao critério não foi suficiente para eliminar a arbitrariedade. Assim, no quinto capítulo, elaboro a responsabilidade epistêmica acima referida como estratégia para contornar um nível de arbitrariedade a ser administrado por qualquer pessoa que tente reconhecer o que justifica suas crenças. Abstract: In the epistemic regress problem, any attempt to justify a belief through reasons wouldn?t scape the three paths offered by the skeptic: to interrupt the inferring of reasons; to repeat previously inferred reasons; or to enter an infinite regress of inferences. The first movement is arbitrary. The second is viciously circular. And the last one represents either an indefinite situation, or something which surpasses any human cognition. The result is the absence of an explanation of how to structure justification. My thesis is that a certain type of epistemically responsible posture is a necessary component of the structure of epistemic justification, as long as the strategy to solve the structural problem of justification is centred on how the person justifying her beliefs deals with arbitrariness. Two premisses are to be defended in order to reach this conclusion. First, that the structural problem of epistemic justification, also known as the epistemic regress problem, is mostly concerned with arbitrariness. Second, that a certain level of arbitrariness cannot be eliminated, once the strategy to solve the problem is focused on requiring the epistemic agent awareness of what contributes to the justification of her belief. The agent, then, has to be responsible for this ineliminable level of arbitrariness. This responsibility is elaborated as a means to believe a proposition whence the agent justifiably believes in two propositions: that she is justified in believe a proposition in her current situation; and that she is not justified in believe the same proposition all situations considered. I explain away the apparent inconsistency of these two sentences by pointing out the fact that they address two different types of justification, being possible their coexistence in a structure of fragmented character. After a short introduction, I defend the first premise in chapter two. I argue that, depending on the intuitions regarding epistemic justification, different theories offer different views of the regress problem. Besides, it is not a clear matter in the current debate if epistemic justification is a philosophical notion rooted in any pre-theoretical intuition. Because of that, to interpret the problem becomes a key moment for anyone who tries to solve it. Then, I argue that the main obstacle for any attempt of solving the problem is the risk of arbitrariness, which I present as my interpretation of the puzzle. I also argue that this risk is not limited to the specialized debate, offering a pervasive interpretation. I close the chapter by indicating my strategy to deal with the problem in these terms, that is, the theory should allow for the epistemic agent to be aware of what contributes to the justification of her beliefs. The second premise is argued through chapters three and four. Throughout them, I explore three strategies to deal with the problem. In chapter three I discuss the foundationalist strategy offered by the Phenomenal Conservatism theory, where the regress can be interrupted by a mental state capable of avoiding arbitrariness and unifying different conceptions of epistemic justification. Unfortunately, both goals are frustrated, and explore two other strategies in chapter four: coherentism and infinitism. Both of them are evaluated in their capacity to fulfil a structural criterion which, if obeyed, should eliminate arbitrariness. Coherentism fails, but infinitism succeeds. However, the fulfilment of the criterion didn?t eliminate arbitrariness, something that led me, in the fifth chapter, to work with a level of arbitrariness as unavoidable, and to explore the infinitist strategy in association with the responsibility aforementioned. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2019. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/211637 |
Date: | 2019 |
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PFIL0369-T.pdf | 1.299Mb |
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