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Na língua guarani fenômenos relativos à nasalidade condicionam as variantes fonéticas de unidades fonológicas. Um reconhecido processo nessa língua diz respeito à alternância entre consoantes nasais plenas e oclusivas pré-nasalizadas em função da nasalidade/oralidade vocálica subsequente. Consoantes oclusivas pré-nasalizadas são constituídas, internamente, por duas fases – uma porção nasal inicial (murmúrio), seguida por um intervalo de oclusão exclusivamente oral. Consoantes nasais plenas, por sua vez, caracterizam-se pela presença de uma fase estável de murmúrio nasal. Esta pesquisa, financiada pelo programa PIBIC 2019/2020, teve por objetivo descrever, acusticamente, vogais nasais/nasalizadas, além de segmentos oclusivos pré-nasalizados e nasais plenos, provenientes de amostras de fala produzidas por falantes guarani das variedades nhandeva e mbya – localizadas em território brasileiro. Em função das medidas de contingência ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), sessões de elicitação fonética para obtenção de dados foram conduzidas apenas com uma participante do grupo nhandeva. A partir do emprego de instrumentação acústico-aerodinâmica, foram analisados dados de 62 produções observando-se os parâmetros duração, amplitude e frequências de ressonância – para consoantes nasais plenas e oclusivas pré-nasalizadas – visando responder as seguintes questões balizadoras: (1) no tocante à duração, qual é comportamento observado para as oclusivas pré-nasalizadas em relação às consoantes homorgânicas simples presentes no nhandeva? (2) há distinção saliente verificada para o espectro de consoantes nasais plenas e oclusivas pré-nasalizadas, em termos de amplitude e regiões de frequência? Os resultados mostraram que, em relação ao parâmetro duração relativa, a fase nasal das consoantes oclusivas pré-nasalizadas não apresentou diferença significativa quando comparada à fase nasal das consoantes nasais plenas. Quanto à duração total dessas consoantes, ao serem cotejadas com consoantes homorgânicas constituídas por fase interna única – obstruintes não-vozeadas e nasais plenas –, apenas os segmentos bilabiais apresentaram padrão de duração similar ao de suas contrapartes. Consoantes oclusivas pré-nasalizadas alveolares se mostraram mais longas do que suas contrapartes nasais plenas, e as velares, em função do número reduzido de dados, não forneceram inferências estatísticas relevantes. Verificou-se que nas consoantes oclusivas pré-nasalizadas a fase nasal correspondeu a 70% da duração total desses segmentos, sendo os 30% restantes referentes à fase de oclusão oral. Para os dois grupos de consoantes, nas baixas frequências, apesar da presença de concentrações de energia, atestaram-se diferenças de amplitude dos picos espectrais na região de offset das oclusivas pré-nasalizadas, com quedas próximas ou superiores a 10dB, sinalizando transição de fases. A largura de banda das regiões de frequência pertencentes à fase de oclusão oral também se mostrou mais estreita, indicando ausência ou reduzida nasalização. As análises referentes à nasalidade vocálica do nhandeva, dirigidas aos parâmetros duração e avaliação das duas primeiras frequências de ressonância (F1xF2), oriundos de vogais orais, nasais e nasalizadas, encontram-se em andamento. |
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