FASE III - Estudo multicêntrico de avaliação do impacto das ações assistenciais em hospitais do sistema único de saúde sobre a morbidade mortalidade por trauma crânio-encefálico grave

Abstract

O traumatismo cranioencefálico (TCE) é um problema mundial de saúde pública em decorrência de suas sequelas, que levam a um prejuízo funcional de longo prazo e diminuição da qualidade de vida. Estudos sugerem que o lobo frontal possui um papel importante na manifestação de alterações de personalidade após TCE. O Modelo de Integração Neurovisceral (MIN) propõe uma conexão entre o sistema nervoso central e autônomo através do compartilhamento de circuitos neurais inibitórios recíprocos. Neste modelo, o córtex pré-frontal é responsável pela inibição da amígdala através de projeções GABAérgicas, gerando respostas autonômicas mensuráveis pela Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC). O objetivo deste estudo é investigar se a variabilidade da frequência cardíaca após o TCE possui valor preditivo para avaliar a recuperação de pacientes vítimas de TCE grave da rede SUS. Foram incluídos no estudo 20 pacientes consecutivos sobreviventes de TCE grave (Escala de Coma de Glasgow na admissão ≤8) atendidos no HGCR em Florianópolis. Os pacientes foram submetidos a uma avaliação clínica, psiquiátrica, registro de EEG, VFC no HU-UFSC. A avaliação psiquiátrica inclui: Entrevista Clínica Estruturada para os Transtornos do Eixo I do DSM-IV; Bateria Fatorial de Personalidade; Inventário de Ansiedade e Depressão de Beck; e Inventário Hospitalar de Ansiedade e Depressão. Os dados da VFC e dos instrumentos psicométricos foram contrastados com os de 20 controles hígidos pareados para sexo, idade e nível sociocultural (grupo Controle). Todas as variáveis bioquímicas, clínicas e demográficas passaram por teste de distribuição normal por meio do teste Kolmogorov-Smirnov (p > 0,05). A comparação entre os índices da VFC entre o grupo TCE e grupo Controle foi feita por meio do teste t de student. Foi realizada a análise de correlação de Pearson para verificar se existe a associação entre os escores das facetas da escala de personalidade e escores das escalas de sintomas de ansiedade e depressão. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados no pacote estatístico Stata 14.0 (Version 14; StataCorp LLC, Texas, USA). Conclui-se que os pacientes do grupo TCE apresentam redução significativa nos índices da HRV (SDNN, rMSSD, LF e HF) em comparação a indivíduos saudáveis. Não foram observadas associações significativas entre os índices da VFC do grupo TCE com os escores da escala de personalidade, ansiedade ou depressão. Pesquisas futuras podem investigar a influência de características clínicas e sociodemográficas nos índices da VFC para entender as causas determinantes desse prejuízo na regulação do tônus autonômico cardíaco, assim como outras comorbidades podem ser exploradas para compreender os impactos desta alteração.