A institucionalização da "sustentabilidade" no espaço empresarial brasileiro: a emergência de uma elite de top managers e a conformação dos neófitos

Abstract

Esta tese apresenta uma pesquisa sociológica cujo foco é a institucionalização da ?Sustentabilidade Empresarial? (SE) no Brasil. Ancorado tanto no disposicionalismo de Bourdieu como no institucionalismo de Berger e Luckmann, o trabalho se desenvolve em uma dupla direção, concentrando-se no momento histórico mais recente daquela instituição. Por um lado, investiga a emergência de uma Elite de top managers adeptos da SE (ESE), através de uma prosopografia daquele grupo dirigente. Por outro lado, analisa as estratégias e táticas de socialização voltadas à ?sustentabilidade? e desenvolvidas na FGV-EAESP, a partir de entrevistas com discentes e docentes, observação participante, além de documentos textuais e audiovisuais da escola de negócios. De forma complementar, a investigação também aborda um curso de mestrado voltado à SE da HEC-Paris, com método homólogo ao empregado junto à FGV-EAESP. O argumento central que construímos nessa tese é o de que a institucionalização da SE avança no sentido da construção coletiva e internacional de um agente-típico, que chamamos de herói sustentável. A história do fenômeno, em especial as últimas iniciativas da aliança entre ONU e empresas em torno do Pacto Global, aponta nessa direção, assim como as tomadas de posição e as práticas discursivas dos membros da ESE. As técnicas pedagógicas de cursos especializados nas escolas de negócios reforçam a construção do herói sustentável, contribuindo para seu ganho de escala e para a estratégia de reprodução social dos adeptos da SE. Paradoxalmente, o movimento dos adeptos da SE representa um afrontamento à doxa do campo econômico ao mesmo tempo em que confere uma nova musculatura às empresas em suas batalhas por legitimidade. De um lado, alguns dos alicerces principais da doxa do campo econômico são estremecidos pelos heterodoxos ?sustentáveis?. De outro, os novos modos de pensar e de agir dos adeptos da SE fornecem, principalmente às grandes empresas, os caminhos para se esquivarem de ataques dos críticos mais fervorosos do capitalismo contemporâneo.<br>

Abstract : This thesis presents a sociological research whose focus relies on the institutionalization of \"Corporate Sustainability\" (CS) in Brazil. The research - anchored both in Bourdieu's dispositionalism and in Berger and Luckmann?s institutionalism ? is developed in two directions emphasizing the most recent historical moment of this institution. On the one hand, it investigates the emergence of an Elite of top managers engaged to CS (ECS), based on a prosopography of this leading group. On the other hand, it analyzes the strategies and the socialization tactics related to engaging students on \"sustainability\" developed by FGV-EAESP, using multiple sources such as interviews with students and teachers, participant observation, textual and audiovisual documents produced by the business school. Additionally, the research also contemplates a HEC-Paris? MSc on CS, using a method similar to the one employed within the FGV-EAESP case. The central argument we have developed in this thesis is that the institutionalization of the CS advances towards the collective and international construction of a typical agent which we nominate as sustainable hero. The history of the phenomenon, particularly the latest initiatives of the alliance between UN and companies around the Global Compact point to this direction, as well as the position statements and discursive practices of ECS members. The pedagogical techniques of specialized courses in business schools reinforce the construction of the sustainable hero, contributing to its gain in scale and to the social reproduction strategy of the CS supporters. Paradoxically, the movement of the CS supporters represents a confrontation with the doxa of the economic field while - at the same time - it gives a new strength to companies in their battles for legitimacy. From one point of view, some of the main foundations of the economic doxa are shaken by the \"sustainable\" group. From another point of view, the new modes of thinking and acting of CS supporters provide - especially for large companies - the paths to avoid attacks made by the most powerful critics of contemporary capitalism.