Cisnorma a articulações de saber-poder na psicologia : uma mirada a partir do processo transexualizador

Abstract

Esta dissertação trata de investigar as articulações da cisnorma nos discursos e práticas da psicologia no âmbito do acompanhamento psicológico do processo transexualizador, etapa obrigatória, com duração de dois anos, para que pessoas trans possam acessar e efetivar seu direito às modificações corporais desejadas no Sistema Único de Saúde. A análise foi realizada a partir de entrevistas com psicólogas/os envolvidas/os no processo transexualizador e por meio de resoluções e portarias referentes a essa política pública. Para as discussões, foram utilizados os conceitos de cisgeneridade e cisnorma/cisnormatividade, operadores teóricos, analíticos e políticos das contribuições e elaborações transfeministas. Tais conceitos remetem à necessidade de estabelecer um contraponto aos processos de nomeação pelos quais as identidades trans foram historicamente patologizadas. Além disso, possibilitam colocar em questão os parâmetros normativos que conferem inteligibilidade a determinados processos de constituição de gênero e, por consequência, dos sujeitos. A proposta deste trabalho se insere nos debates em torno da despatologização de pessoas trans e, dessa maneira, procura-se situar como o saber psicológico participa das formas de visibilização e legitimação de suas vivências, por meio de processos específicos de nomeação, enunciação e reconhecimento. Portanto, discute-se as condições que a obrigatoriedade do acompanhamento psicológico coloca para os saberes e as narrativas de pessoas trans, bem como os parâmetros que os discursos da psicologia mobilizam na definição e compreensão de suas trajetórias.

Abstract: This dissertation tries to investigate the articulations of the cisnormativity in the discourses and practices of psychology in the scope of the psychological assistance of the transitioning process, a two years obligatory stage, so that trans people can access and effect their right to the desired corporal modifications in the Unique Health Care System. The analysis was carried out from interviews with psychologists involved in the gender reassignment process and through resolutions and ordinances related to this public policy. For the discussions, the concepts of cisgenerity and cisnormativity, theoretical, analytical and political operators of the transfeminist contributions and elaborations were used. These concepts point to the need to establish a counterpoint to the naming processes by which trans identities have been historically pathologized. In addition, they make it possible to question the normative parameters that confer intelligibility to certain processes of constitution of gender and, consequently, of subjects. The proposal of this work is inserted in the discussions about the depatologization of trans people and, in this way, it seeks to situate how the psychological knowledge participates in the ways of visualizing and legitimating their experiences, through specific processes of naming, enunciation and recognition. Therefore, it is discussed the conditions that the obligation of psychological assistance places on the knowledge and narratives of trans people, as well as the parameters that the discourses of psychology mobilize in the definition and understanding of their trajectories.