O jornalismo das periferias de São Paulo entre a experimentação e a atualização de práticas convencionais

Abstract

Esta pesquisa explora como as práticas adotadas pelo jornalismo das periferias de São Paulo são construídas na tensão entre o que é convencionalmente produzido no jornalismo e a experimentação de novas maneiras de fazê-lo. Os veículos estudados, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Periferia em Movimento, são grupos das regiões periféricas da cidade que se colocam em um lugar de disputa das narrativas sobre essas comunidades, contrapondo à ausência de cobertura ou a reportagens majoritariamente estereotipadas da grande mídia uma produção feita com olhar de seus próprios moradores. A partir da ideia de saber-poder em Michel Foucault, discuto sobre como a forma jornalística das empresas de mídia tornou-se referencial padrão da atividade, contestada por experiências jornalísticas historicamente marginalizadas, como as imprensas negra e operária. Realizo então um estudo multidimensional do jornalismo dos veículos de periferia escolhidos, baseado em entrevistas com grupos de profissionais. Utilizo para compreender as especificidades de cada experiência o conceito de governança ? ancorado nas ideias foucaultianas de governo e governamentalidade ? com enfoque em quatro dimensões do ofício: editorial; de circulação e engajamento; de gestão; e de sustentabilidade. A pesquisa contribui, através da articulação com os estudos foucaultianos, para teorizações que deem conta da emergência de novas experiências jornalísticas, avançando na direção de uma teoria social do jornalismo, dinâmica e aberta à diversidade de práticas profissionais que ele comporta.<br>

Abstract: This study explores how practices adopted by the journalism from the peripheries of São Paulo are composed on the tension between what is conventionally produced in journalism and the experimentation of new ways of doing so. The media outlets analysed here, Agência Mural de Jornalismo das Periferias and Periferia em Movimento, are colectives from underprivileged areas of the city that put themselves in a place of dispute of the narratives about these communities, opposing the lack of coverage or the mostly stereotypical mainstream media reports with a journalistic production made with the perspectives of its own residents. With Michel Foucault's idea of power-knowledge, I discuss how the journalistic practices of media companies became the standard reference for the activity, challenged by historically marginalized journalistic experiences, such as the black and workers? press. I then carry out a multidimensional analysis about the journalism of the chosen iniciatives, based on interviews with groups of professionals. I use the concept of governance ? anchored in Foucault's ideas of government and governmentality ? to understand the specificities of each experience, focusing on four dimensions: editorial; circulation and engagement; management; and sustainability. This research contributes, through articulation with Foucaultian studies, to theorizations that account for the emergence of new journalistic experiences, advancing towards a social theory of journalism, dynamic and open to the diversity of professional practices that it comprises.