ÈÈWÒ no ILÊ: os usos, o controle e a circulação de imagens fotográficas no Candomblé de Sergipe

Abstract

No candomblé, as interdições têm um papel fundamental no processo ritualístico das casas e famílias que compõem essa religião. Uma forma de controle e que é colocada nominalmente como proibição, frequente nas diferentes casas de axé de candomblé é o ato de fotografar e as implicações que estão contidas neste ato. Esta pesquisa tem como foco a análise da imagem fotográfica como elemento central de relações entre o público e o privado, o que pode ser visto, fixado e o que não pode ser visto ou fixado através do ato fotográfico, sejam eles produzidos pelos integrantes das casas de axé, ou por pesquisadores e demais visitantes que circulam entre essas festividades. Além disso, essa pesquisa trouxe uma breve discussão sobre as memórias fotográficas de três casas de Candomblé sergipano, e a forma como essas memórias são organizadas, trazidas à tona, através não só daquelas que são expostas em diversos lugares da casa, como as paredes do barracão com fotografias emolduradas, como também fotografias digitais e a circulação dessas imagens nas redes sociais. As fotografias que circulam nas redes sociais, especificamente nas redes Facebook e Instagram, apresentam a imagem como um produto a ser exibido, fabricado, circulado. Neste sentido, ao tomar esse tipo de fotografia como um \"produto\", podemos perceber que esse produto é formado por um conjunto de práticas, que vão além de uma bricolagem de símbolos que se encaixam. Tais práticas incluem uma série de fatores que atuam simultaneamente, como o som, a ação, o movimento, que pode ser \"lido\" e interpretado como algo que se expande para além do que é \"visível\" e montado num pedaço de papel, num quadro na parede, ou até mesmo compartilhadas digitalmente. Portanto, a discussão visa problematizar como essas imagens circulam e o papel desses arquivos como preservação de uma memória e ato de resistência em momentos de intolerância e conservadorismo político.

Abstract : In candomblé, interdictions play a fundamental role in the ritualistic process of the houses and families that are from this religion. One form of control, known as prohibition, which is common in different candomblé houses, refers to the act of photographing and the implications that are contained in this act. This research focuses on the analysis of the photographic image as a central element of relations between the public and the private, of what can or cannot be seen, fixed through the photographic act, whether produced by members of the houses of axé, or by researchers and other visitors who circulate between those festivities. In addition, this research brings a brief discussion about the photographic memories of three Candomblé houses in Sergipe, and the way those memories are organized and brought to the surface, through not only those that are exposed in different places in the houses, such as the walls of the houses shed with framed photographs, as well as digital photographs and the circulation of these images on social networks. The photographs that circulate on social networks, specifically on Facebook and Instagram, present the image as a product to be displayed, manufactured, circulated. In this sense, when taking this type of photography as a \"product\", we can see that this product is formed by a set of practices, which go beyond a bricolage of symbols that fit together. Such practices include a series of factors that act simultaneously, such as sound, action, movement, which can be \"read\" and interpreted as something that expands beyond what is \"visible\" and mounted on a piece of paper, in a picture on the wall, or even shared digitally. Therefore, the discussion aims to problematize how these images circulate and the role of these archives in the preservation of a memory and as an act of resistance in moments of intolerance and political conservatism.