Efeito da sazonalidade no perfil de uso de espaços públicos abertos em Florianópolis, SC

Abstract

Espaços públicos abertos (EPAs) são recursos importantes para prática de atividade física em nível populacional. Entretanto, informações que esclareçam o padrão de uso destes locais sob o efeito da sazonalidade em países de renda baixa e média ainda são escassas. O objetivo deste estudo foi utilizar instrumentos de observação para descrever o padrão de uso de espaços públicos abertos de uma capital brasileira, ao longo de todas as estações do ano. Foram selecionados nove EPAs de Florianópolis, sul do Brasil, representando diferentes zonas da cidade e níveis socioeconômicos. Informações sobre o uso dos EPAs, condições de uso e dados sobre os usuários, foram obtidas pela aplicação do instrumento System for Observing Play and Recreation in Communities (SOPARC), enquanto, a avaliação das características físicas e qualidade das estruturas foi realizada com a ferramenta Physical Activity Resource Assessment (PARA). Dados acerca das condições climáticas foram registradas no início de cada observação. No total, 59.354 usuários de EPAs foram observados (41,5% feminino). Mais da metade dos usuários eram adultos (57,0%) e idosos apresentaram a menor presença (9,4%). Os usuários com cor da pele preta / parda eram em sua maioria adultos (5,7%) e crianças (2,2%). Cerca de 2/3 dos usuários dos EPAs estavam engajados em atividades físicas de intensidades moderadas ou vigorosas (moderadas 39,9% e vigorosas 26,0%). A presença de usuários foi maior nos EPAs com maior renda domiciliar em seu entorno e alta qualidade geral (51,4%). Apenas 9,7% dos usuários foram observados em EPAs com baixa qualidade geral. Os usuários foram observados principalmente em parques (43,3%) e pistas de ciclismo / pista (36,1%). Houve alterações significativas na temperatura média entre as estações, com o verão sendo o mais quente (26,7°C) e o inverno o mais frio (18,4°C). A média de sensação térmica acompanhou a variação da temperatura indo de 19,3°C (outono) até 29,1°C (verão). O inverno foi a estação mais seca (umidade média 61,8%) enquanto o verão foi mais úmido (umidade média 70,5%). Maior frequência de usuários foi observada no inverno e primavera (p<0,001). Resultados de regressão linear bruta mostraram que a temperatura é significativa para presença de usuários, de modo que cada elevação de 1°C presume um aumento de 1,20% na ocupação geral (ß: 1,20; CI95%: 0.62 1.78; p<0,001). O inverno e a primavera concentraram mais usuários do sexo masculino (p<0,001). Já usuários do sexo feminino tiveram menor presença no inverno comparado as demais estações (p<0,001). Crianças e adolescentes foram mais observados na primavera, enquanto idosos no verão, e adultos no outono (p<0,001). Em todas as estações a maioria dos usuários estavam engajados em AFMV. Não houve diferença significativa (embora limítrofe) no percentual de engajamento em AFMV ao longo das estações (p<0,05). Entretanto, verificou-se por regressão linear cada elevação de 1°C presume menor engajamento em AFMV em 0,82% (ß: -0,82; CI95%: -1.46 -0.18; p=0,01). Gestores públicos e profissionais de saúde podem utilizar os dados aqui apresentados para melhor compreender o padrão de uso de EPAs e o efeito da sazonalidade na utilização destes espaços, para assim, desenvolver estratégias para potencializar seu impacto na atividade física dos usuários..<br>

Abstract : Public Open Spaces (POS) are important resources for physical activity at the population level. However, information clarifying the pattern of use of these places under the effect of seasonality in lower income countries is still scarce. The objective of this study was to use observation tools to describe the pattern of use of open public spaces in a Brazilian capital throughout all seasons. Nine POS were selected from Florianópolis, south of Brazil, representing different zones of the city and socioeconomic levels. Information on the use of POS, conditions of use, and data on users were obtained by applying the System for Observing Play and Recreation in Communities (SOPARC), while the evaluation of the physical characteristics and quality of the structures was performed with the Physical Activity Resource Assessment (PARA) tool. Data on weather conditions were recorded at the beginning of each observation. In total, 59,354 POS users were observed (41.5% women). More than half of the users were adults (57.0%) and the elderly had the lowest presence (9.4%). Users with black / brown skin color were mostly adults (5.7%) and children (2.2%). About 2/3 of POS users were engaged in moderate or vigorous physical activity (moderate 39.9% and vigorous 26.0%). The presence of users was higher in POS with higher household income and high overall quality (51.4%). Only 9.7% of users were observed in POS with low overall quality. Users were observed mainly in parks (43.3%) and bicycle paths / track (36.1%). There were significant changes in the average temperature between seasons, with summer being the hottest (26.7°C) and winter the coldest (18.4°C). The average thermal sensation followed the temperature variation from 19.3°C (autumn) to 29.1°C (summer). Winter was the driest season (average humidity 61.8%) while summer was wettest (average humidity 70.5%). Higher frequency of users was observed in winter and spring (p<0.001). Results of linear regression showed that temperature is significant for the presence of users, so that each elevation of 1°C assumes an increase of 1.20% in general occupation (ß: 1.20; CI95%: 0.62 1.78; p<0.001). Winter and spring concentrated more male users (p<0.001). Women had less presence in winter compared to other seasons (p<0.001). Children and adolescents were more observed in spring, while older adults in summer, and adults in fall (p<0.001). In all seasons most users were engaged in MVPA. There was no significant (although borderline) difference in the percentage of MVPA engagement over seasons (p<0.05). However, by linear regression each 1°C elevation assumed lower MVPA engagement by 0.82% (ß: -0.82; CI95%: -1.46 -0.18; p=0.01). Public managers and health professionals can use the data presented here to better understand the pattern of use of POS and the effect of seasonality in the use of these spaces, in order to develop strategies to enhance their impact on users' physical activity.