Abstract:
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Introdução: Crianças e adolescentes com cardiopatia congênita apresentam risco cardiovascular aumentado em comparação com indivíduos saudáveis. O controle de fatores de risco cardiovascular modificáveis, como hábitos alimentares, pode melhorar a saúde cardiovascular destes pacientes na vida adulta. Os ácidos graxos monoinsaturados (AGMIs) são associados a efeitos benéficos à saúde cardiovascular. No entanto, ainda não está claro se os AGMIs de diferentes fontes alimentares estão associados, ou não, à proteção cardiovascular.
Objetivo: Avaliar a associação entre AGMIs totais e de diferentes fontes alimentares com cluster de risco cardiovascular em crianças e adolescentes com cardiopatia congênita.
Métodos: Estudo transversal com crianças e adolescentes com cardiopatia congênita submetidos a procedimento cardíaco recrutados no Floripa CHild (Congenital Heart dIsease and atheroscLerosis in chilDren and adolescents) Study. A ingestão alimentar de AGMIs totais e fontes alimentares (animal (AGMI-As), vegetal (AGMI-Vs) e ultraprocessada (AGMI-UPs)) foi avaliada por meio de recordatórios de 24 horas, com o método de múltiplas passagens. O cluster de risco cardiovascular, composto por circunferência da cintura (CC), proteína C-reativa ultrassensível (PCR-us) e espessura médio-intimal da carótida (EMIc), foi avaliado pelo método de cluster em duas etapas. Regressão logística multivariada foi aplicada para avaliar associações entre AGMIs totais e suas fontes alimentares com cluster de risco cardiovascular. Os resultados foram expressos em odds ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Valor de p < 0,05 foi considerado significativo.
Resultados: Foram avaliados 220 crianças e adolescentes com cardiopatia congênita (idade mediana [IQR]: 10,03 anos [7,08 - 13,04]) e 22,3% foram identificados com alto risco cardiovascular pelo cluster de risco cardiovascular. A ingestão total de AGMIs contribuiu com 10,57% (DP: 1,11) da energia diária, e as fontes alimentares predominantes foram AGMI-As (5,17%; DP: 0,68) e AGMI-UPs (3,88%; DP: 0,62). Na regressão logística ajustada para idade, sexo, renda per capita, comportamento sedentário, AGMI-As para AGMI-Vs e AGMI-UPs, e vice-versa, tempo de pós-operatório, tipo de cardiopatia congênita e número de hospitalizações por infecções, a ingestão de AGMI-Vs foi associada à redução da odds para o cluster de risco cardiovascular (OR: 0,62; IC95%: 0,39 - 0,99), enquanto a ingestão de AGMIs totais (OR: 5,62; IC95%: 2,88 - 10,97), de AGMI-As (OR: 3,35; IC95%: 1,60 - 7,02) e de AGMI-UPs (OR: 4,18; IC95%: 1,89 - 9,24) foi associada a aumento da odds para o cluster de risco cardiovascular.
Conclusão: AGMIs de diferentes fontes alimentares apresentaram diferentes associações com o cluster de risco cardiovascular. Esses achados sugerem que AGMI-Vs são preferíveis para proteção cardiovascular, enquanto os AGMI-As, AGMI-UPs e AGMIs totais podem representar fatores de risco cardiovascular. |