Risco cardiovascular e envelhecimento: um olhar (bio)psicossocial

Abstract

Introdução: As doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis pelas maiores taxas de morbimortalidade, principalmente, na população idosa. Entretanto, é uma doença multifatorial relacionada com diversos fatores de risco modificáveis. Dessa forma, uma das formas de prevenir é através da estratificação de risco cardiovascular (RCV), para definir estratégias adequadas de enfrentamento aos fatores de risco ou às DCV. Além disso, é necessário ampliar o conhecimento desse risco para o contexto social do espaço vital do indivíduo ? a fim de contemplar os fatores sociais emocionais. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi investigar a associação entre os determinantes biopsicossociais e o RCV no envelhecimento. Métodos: Trata-se de um estudo transversal com dados provenientes do ELSI-Brasil, um estudo longitudinal de base populacional com dados coletados entre 2015 e 2016. Para avaliar o RCV foi utilizado o WHO/ISH Cardiovascular Risk Prediction Charts e as variáveis de exposição foram suporte social percebido e participação social. O suporte social percebido foi investigado através de proposições de situações, na qual, os participantes deveriam citar quem eles imaginavam que lhes ajudaria. Já para avaliar a participação social, foram questionadas as atividades sociais, produtivas e de lazer realizadas nos últimos 12 meses e estratificadas em tercis. Por fim, para estimar a ocorrência do desfecho segundo as exposições foram realizadas regressão logística bruta e ajustada, com estimação do odds ratio com seus intervalos de confiança de 95%. Resultados: Foram incluídos 6.005 participantes entre 50 e 74 anos de idade com dados completos. Destes, 18,7% (IC95% 16,9-20,6) apresentaram alto RCV, com prevalência maior naqueles com idade entre 70 e 74 anos (75,6%), do sexo masculino (27,7%), com baixo peso (25,6%), com hipertensão arterial sistêmica (40,5%) e fumantes (36,0%). A maior participação social reduziu a prevalência de RCV enquanto a ausência de suporte social percebido aumentou. Conclusão: As intervenções direcionadas ao envelhecimento ativo e/ou envelhecimento saudável através da abordagem dos fatores sociais emocionais, como participação social e suporte social, são um dos caminhos para a abordagem dos fatores de risco modificáveis. Entretanto, para encontrar as estratégias adequadas de manejo aos fatores de risco é necessário a estratificação do RCV associada a ampliação do diagnóstico terapêutico. Respeitar a individualidade e os determinantes psicossociais que permeiam a condição de saúde significa garantir o princípio da integralidade e equidade em saúde.

Abstract: Introduction: Cardiovascular diseases (CVD) are responsible for the highest rates of morbidity and mortality, especially in the elderly population. However, it is a multifactorial disease related to several modifiable risk factors. Thus, one of the ways to prevent it is through cardiovascular risk stratification (CVR), to define appropriate strategies for coping with risk factors or CVD. In addition, it is necessary to expand the knowledge of this risk to the social context of the individual's living space - in order to contemplate the social emotional factors. Given the above, the objective of this study was to investigate the association between biopsychosocial determinants and CVR in aging. Methods: This is a cross-sectional study with data from ELSI-Brazil, a population-based longitudinal study with data collected between 2015 and 2016. To assess the CVR, WHO / ISH Cardiovascular Risk Prediction Charts and exposure variables were used were perceived social support and social participation. The perceived social support was investigated through propositions of situations, in which, the participants should mention who they thought would help them. In order to assess social participation, social, productive and leisure activities carried out in the last 12 months and stratified in tertiles were questioned. Finally, to estimate the occurrence of the outcome according to the exposures, crude and adjusted logistic regression was performed, with an estimate of the odds ratio with its 95% confidence intervals. Results: 6,005 participants between 50 and 74 years of age with complete data were included. Of these, 18.7% (95% CI 16.9-20.6) had a high CVR, with a higher prevalence in those aged 70 to 74 years (75.6%), males (27.7%), with low weight (25.6%), with systemic arterial hypertension (40.5%) and smokers (36.0%). Greater social participation reduced the prevalence of CVR while the absence of perceived social support increased. Conclusion: Interventions aimed at active aging and / or healthy aging by addressing social emotional factors, such as social participation and social support, are one of the ways to address modifiable risk factors. However, stratification of the CVR associated with the expansion of the therapeutic diagnosis is necessary to find the appropriate strategies for managing risk factors. Respecting individuality and the psychosocial determinants that permeate the health condition means guaranteeing the principle of integrality and equity in health.