Processo de luto diante da ausência de ritual fúnebre na pandemia da COVID-19: análise documental jornalismo online

Abstract

Em uma pandemia, vivenciamos tanto as perdas de vidas humanas, quanto as perdas de empregos, de conexões sociais presenciais e rotinas. Estamos vivendo diferentes formas de luto em larga escala social. Este cenário aliado ao distanciamento social, necessário para a contenção do contágio da doença, leva à suspensão ou ausência de estratégias tradicionais de luto e rituais de despedidas. O objetivo deste estudo foi compreender como a ausência de ritual fúnebre impacta no processo de viver o luto das famílias brasileiras vítimas da COVID-19. Pesquisa qualitativa de cunho documental, foram utilizados três jornais, dois brasileiros, de grande circulação disponibilizados online: a \"Folha de São Paulo\" e \"O Globo\", e um terceiro jornal exclusivamente online: \"El País\" que tem cobertura no Brasil, outros países da América Latina e Iberoamérica. Jornalismo online é diferente de jornal científico ou periódicos e revistas cientificas online, as reportagens dos primeiros atingem uma faixa mais ampla da sociedade, os artigos científicos é mais restrito a comunidade acadêmica e pesquisadores. O processo de subjetivação da população sobre o impacto psicológico da COVID-19 é construído em parte com o conteúdo das reportagens e esta pesquisa analisa os resultados vinculados aos trechos das reportagens dos três jornais, construindo um diálogo entre o saber científico e o popular sobre o impacto da pandemia. Foram analisadas 67 reportagens, divididas em três macro categorias: A primeira categoria trata das reportagens relativas à sofrimentos psicológicos derivados do isolamento social, na qual identificamos quatro grupos de sofrimentos psicológicos recorrentes: ansiedade; depressão; solidão; medo. A segunda categoria trata de rituais fúnebres em contexto de isolamento social. Nesta analisamos as novas formas de velar e impossibilidade de velório. A terceira categoria trata das diferentes manifestações do luto e discutimos sobre o efeito psicológico das perdas em meio à pandemia. A ritualização da morte é indissociável do processo de elaboração das perdas e procuramos mostrar nessa pesquisa, como a ausência de rituais fúnebres aliado ao distanciamento social podem repercutir por gerações e de forma desafiadora para a sociedade e para os profissionais em saúde mental. Estratégias não-presenciais de demonstrar afeto, elaborar a perda, está ?presente? online pode amenizar o isolamento imposto pela pandemia. Entretanto, não é possível saber quais serão as consequências das ausências deixadas nos processos para a elaboração do luto que, como pontuamos, já começa antes da morte em si. No campo da saúde mental, salientamos estratégias de intervenções possíveis, são elas: rituais coletivos via videoconferência, incentivando a rede afetiva a expressar seus sentimentos; telefonemas; mensagens e áudios também configuram-se como alternativas viáveis para manifestações de condolências e compartilhamento de afeto e memórias sobre a pessoa que faleceu, além de grupos de apoio online à pessoas enlutadas. Diante de um novo cenário que ainda não podemos definir qual será, destacamos a importância de investir em novas estratégias de cuidado e acolhimento em meio a pandemia.

Abstract: In a pandemic, we experience both the loss of human life and the loss of jobs, in-person social connections and routines. We are experiencing different forms of mourning on a large social scale. This scenario combined with the social distance, necessary to contain the contagion of the disease, leads to the suspension or absence of traditional mourning strategies and farewell rituals. The aim of this study was to understand how the absence of funeral ritual impacts the process of experiencing the mourning of Brazilian families victims of COVID-19. Qualitative research of documentary nature, three newspapers, two Brazilian ones, of great circulation available online were used: \"Folha de São Paulo\" and \"O Globo\", and a third newspaper exclu- sively online: \"El País\" that has coverage in Brazil, other countries in Latin America and Iberoamerica. Online journalism is different from scientific journals or journals and online sci- entific journals, the reports of the former reach a wider range of society, scientific articles are more restricted to the academic community and researchers. The process of subjectification of the population on the psychological impact of COVID-19 is built in part with the content of the reports and this research analyzes the results linked to excerpts from the reports of the three newspapers, building a dialogue between scientific and popular knowledge about the subject. pandemic impact. 67 reports were analyzed, divided into three macro categories: The first cat- egory deals with reports related to psychological suffering derived from social isolation, in which we identified four groups of recurrent psychological suffering: anxiety; depression; lone- liness; fear. The second category deals with funeral rituals in the context of social isolation. In this we analyze the new ways of watching and impossibility of wake. The third category deals with the different manifestations of mourning and we discuss the psychological effect of losses in the midst of the pandemic. The ritualization of death is inseparable from the process of elab- orating losses and we seek to show in this research, how the absence of funeral rituals combined with social distance can have repercussions for generations and in a challenging way for society and for mental health professionals. Non-face-to-face strategies to show affection, elaborate the loss, is ?present ?online can ease the isolation imposed by the pandemic. However, it is not possible to know what will be the consequences of the absences left in the processes for the elaboration of mourning, which, as we have pointed out, already begins before death itself. In the field of mental health, we highlight strategies for possible interventions, which are: collec- tive rituals via videoconference, encouraging the affective network to express their feelings; phone calls; messages and audios are also viable alternatives for expressions of condolence and sharing of affection and memories about the person who died, in addition to online support groups for bereaved people. Faced with a new scenario that we cannot yet define what it will be, we emphasize the importance of investing in new care and reception strategies in the midst of the pandemic.