Sofrimento psíquico de profissionais paliativistas na assistência do processo morte e morrer

Abstract

Introdução: Nos currículos de graduação, não há uma formação adequada para pensar a morte como um processo natural da vida. Devido à pandemia da COVID-19 estudos trazem que as medidas inseridas no contexto social fazem emergir a ansiedade, estresse e depressão, alterando a saúde mental das pessoas, famílias e dos profissionais da saúde. A abordagem dos cuidados paliativos faz emergir outra perspectiva do cuidado à morte. Com tudo isso em vista, procura-se entender de que maneira o trabalho pode afetar a saúde mental dos profissionais paliativistas. Objetivo geral: Conhecer a percepção da equipe multiprofissional de cuidados paliativos acerca do seu sofrimento psíquico. Objetivos específicos: caracterizar o perfil dos profissionais de cuidados paliativos; identificar fatores que influenciam a saúde mental dos profissionais paliativistas; analisar a relação entre sofrimento psíquico e a assistência no processo morte-morrer. Metodologia: estudo qualitativo, na modalidade exploratória descritiva sob base discursiva dos resultados a abordagem conceitual de Betty Neuman, que trabalha a reação das pessoas e comunidades aos estressores ambientais. Realizada em duas instituições de saúde que apresentam equipes de cuidados paliativos, em Florianópolis entre fevereiro e novembro de 2020. Participaram nove profissionais, sendo três médicos, três enfermeiras, duas técnicas de enfermagem e um capelão. A análise qualitativa foi por meio de análise de conteúdo segundo Bardin. Seguiram-se as etapas de pré-análise, exploração e tratamento dos dados. Da análise, emergiram duas categorias: 1. Percepção de si: sofrimento pessoal multiprofissional em cuidados paliativos; 2. Comunicação e sofrimento relacional em paliação num contexto de luto social frente à pandemia COVID-19. Resultados: a assistência paliativa foi retratada como fonte de satisfação e gratificação pelos profissionais que participaram da pesquisa. A relação intraequipe é boa e fonte de fortalecimento para o profissional. Um dos aspectos mais desafiadores no processo de trabalho é a comunicação com o paciente. A pandemia e o manejo inadequado da crise fizeram surgir sentimentos de frustração e dificultou o enfrentamento do processo de morte. A comunicação precisou ser adaptada devido ao distanciamento social, acarretando no advento do uso de estratégias comunicacionais, vídeochamadas e teleconsultas. Considerações finais: foi possível identificar que a principal fonte de estressores para os trabalhadores está relacionada ao processo de comunicação com paciente e familiares. Percebe-se, que a própria formação em cuidados paliativos fortalece o profissional da saúde e o protege contra estressores, prevenindo sofrimento psíquico. A filosofia dos cuidados paliativos propicia um novo olhar para a morte, fazendo com que o convívio com o sofrimento deixe de ser um processo penoso. Ainda assim, é possível identificar sentimentos de tristeza e frustração, especialmente relacionados à pandemia e às dificuldades geradas por ela. Reforça-se a necessidade de incluir os cuidados paliativos nos currículos dos cursos de graduação das diversas profissões da saúde. Mostraram-se como limitações do estudo a coleta de dados online e a participação de poucas categorias profissionais envolvidas nos cuidados paliativos e nesta pesquisa, com predominância da enfermagem e da medicina. O estudo traz importante contribuição para a literatura tendo em vista a escassa produção acadêmica, recente, acerca do fenômeno investigado.