Sobre a noção de sentido em Merleau-Ponty

Abstract

O empreendimento desta pesquisa tem o propósito de abordar e analisar, por meio de uma leitura interpretativa de textos do filósofo Maurice Merleau-Ponty e de alguns de seus continuadores e comentadores, o tema do sentido na sua obra, considerando três momentos no itinerário do seu pensamento. A nossa hipótese de trabalho assume que a noção de sentido aparece com características distintas em cada período cronologicamente segmentado: de início, ainda no âmbito da filosofia da percepção, o sentido aparece como experiência de intencionalidade operante, revelando um sujeito situado como ser-no-mundo, imerso na temporalidade, em contato radical com o Ser pré-reflexivo, que o precede (mas que só existe, é, por ele); a seguir, no trânsito para uma fenomenologia da linguagem, o sentido se reconfigura em experiência de diferenciação estrutural, implicando e promovendo o descentramento do sujeito na comunicação com outrem, no mundo intersubjetivo da cultura; e, por fim, já no escopo da sua ontologia da carne, o sentido emerge como experiência de reversibilidade, como implicação, articulação e imbricação espontâneas e recíprocas entre consciência e corpo, pensamento e natureza, entre o orgânico e o racional, o empírico e o ideal, dando lugar e expressividade a um ser bruto, selvagem, indiviso. Com isso, contamos assinalar a centralidade do conceito de sentido no pensamento merleau-pontyano, destacando a sua relevância ontológica e sua contribuição no desenvolvimento da sua filosofia.

Abstract: The purpose of this research is to approach and analyze, through an interpretative reading of texts by the philosopher Maurice Merleau-Ponty and some of his adepts and commentators, the theme of sense in his work, considering three moments in the itinerary of his thought. Our hypothesis assumes that the notion of sense appears with different characteristics in each chronologically segmented period: at first, still within the scope of the philosophy of perception, sense appears as an experience of operative intentionality, revealing a subject situated as beingin-world, immersed in temporality, in radical contact with the pre-reflective Being, which precedes it (but which only exists, is, through it); then, in the transition to a phenomenology of language, sense is reconfigured into an experience of structural differentiation, implying and promoting the subject's decentralization in communication with others, in the intersubjective world of culture; and, finally, within the scope of its flesh ontology, sense emerges as an experience of reversibility, as spontaneous and reciprocal implication, articulation and overlap between consciousness and body, thought and nature, between the organic and the rational, the empirical and the ideal, giving place and expressiveness to a crude, wild, undivided Being. With that, we hope to highlight the centrality of the concept of sense in Merleau-Ponty's thinking, highlighting its ontological relevance and its contribution to the development of its philosophy.