Estigma contra a esquizofrenia entre médicos: papel da estereotipagem negativa e periculosidade percebida

Abstract

O estigma entre profissionais de saúde em relação aos transtornos mentais tem sido associado com desfechos negativos para os pacientes, porém seus mecanismos são mal compreendidos em populações de médicos. No presente trabalho, foram avaliados médicos psiquiatras e não psiquiatras quanto a medidas de estigma contra a esquizofrenia a fim de investigar o papel dos estereótipos negativos, periculosidade percebida contra os outros e a si mesmo e especialidade médica no desejo de distância social e na opinião sobre o direito de votar. Modelos de regressão evidenciaram que uma maior periculosidade percebida contra os outros e si mesmo foram preditores independentes de um maior desejo de distância social entre médicos psiquiatras e não psiquiatras. A periculosidade percebida contra os outros também foi um preditor de discordância com o direito de votar tanto em psiquiatras como em médicos não psiquiatras. Análises combinando as duas amostras evidenciaram que uma especialidade médica que não a psiquiatria foi capaz de predizer um maior desejo de distância social e uma discordância mais frequente com o direito de votar, independentemente de estereótipos negativos e da periculosidade percebida. Análises de interação mostraram que a psiquiatria como especialidade médica atenuou os efeitos da periculosidade percebida contra os outros e si mesmo no desejo de distância social. Esses achados contribuem para a compreensão dos mecanismos do estigma de médicos contra a esquizofrenia, com possíveis implicações para as intervenções antiestigma.

Abstract: Stigma among health professionals toward mental disorders has been associated with negative outcomes for patients, but its mechanisms are poorly understood in physician populations. In the present study, psychiatrists and non-psychiatric physicians were evaluated regarding measures of stigma toward schizophrenia in order to investigate the role of negative stereotyping, perceived dangerousness toward others and self and medical specialty in desire for social distance and opinion on the right to vote. Regression models showed that greater perceived danger toward others and self were independent predictors of greater desire for social distance among psychiatrists and non-psychiatric physicians. Perceived dangerousness toward others was also a predictor of disagreement with the right to vote among psychiatrists and nonpsychiatric physicians. Analyses combining both samples showed that a medical specialty other than psychiatry was able to predict greater desire for social distance and disagreement with the right to vote, regardless of negative stereotypes and perceived dangerousness. Interaction analyses showed that psychiatry as a medical specialty attenuated the effects of perceived danger toward others and self on desire for social distance. These findings contribute to the understanding of the mechanisms of physician stigma against schizophrenia, with possible implications for anti-stigma interventions.