"O perigo de uma história única": colonialidade e branquitude nos currículos de Relações Internacionais

Abstract

A presente monografia tem como objetivo geral investigar a existência de uma lógica do patriarcado colonial hegemônico branco na área das Relações Internacionais (RI) no Brasil — especialmente em três de suas disciplinas centrais (Introdução às RI e Teorias das RI I e II) — e, caso afirmativo, de qual maneira ela se perpetua. Para tal, foram considerados três objetivos específicos: (i) contestar a narrativa monolítica e eurocêntrica nas RI que sanitiza a história e os assuntos estudados pelo campo; (ii) analisar os planos de ensino de RI no Brasil para verificar se esses privilegiam uma narrativa e um saber corporificado específicos; (iii) discorrer sobre o duplo poder dos currículos de atuarem pela manutenção das lógicas coloniais ou de constituírem ferramenta libertadora e decolonial. Os resultados da pesquisa revelam, dentre outras variáveis, que nos 45 planos de ensino de 15 universidades federais analisados existe uma hegemonia de pessoas brancas (89,19% das indicações de leitura), especialmente aquelas do sexo masculino (66,74% de todos/as os/as referenciados/as) e do Norte global (58,63%). A base teórica do estudo é as teorias pós-anti-decoloniais, antirracistas, feministas e do Sul global que permitem identificar como a subalternização de povos marginalizados é continuada na área das RI no Brasil para, por fim, indagar sobre o potencial libertador da educação e as possibilidades de realização da decolonização dos currículos.

This research has the goal of investigating if the field of International Relations (IR) in Brazil is ruled by a white hegemonic colonial patriarchate logic — specially in three of its main subjects (Introduction to IR and Theories of IR I and II) — and, if so, in which way it is perpetuated. In order to achieve this goal, three specific objectives were considered: (i) to challenge the monolithic and Eurocentric narrative in IR that sanitizes the history and subjects studied by the field; (ii) analyse IR lesson plans in Brazil to see if they favour certain narratives and embodied knowledges; (iii) to discuss the double power of curricula, that can act for the maintenance of colonial logics or can constitute a liberating and decolonial tool. The results of the research reveal that, among other variables, in the 45 lesson plans of 15 federal universities analysed there is a hegemony of white people (89,19% of the literature indicated), specially of the males (66,74% of all referenced authors) and from the global North (58,63%). The theoretical basis of the study is the post-anti-decolonial, anti-racist, feminist, and global South theories applied in order to identify how the subordination of marginalized peoples is continued in the area of IR in Brazil so it can inquire the liberating potential of education and the possibilities for carrying out the decolonization of curricula.