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Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China. Em Florianópolis/SC, Brasil, o primeiro caso infectado foi diagnosticado dia 12/03/2020 em um homem de 34 anos, atendido no hospital Baía Sul, que havia retornado de Nova Iorque, nos Estados Unidos no dia 06/03/2020, a partir disso a doença se disseminou progressivamente por todo o território da capital, causando consequências em todos os territórios e expondo as populações mais vulneráveis a maior carga de sofrimento e dificuldade de superar a crise em saúde pública. Isso ressalta a importância dos órgãos nacionais, estaduais e municipais de vigilância desempenharem o papel fundamental na prevenção e monitoramento da atual pandemia da COVID-19. O objetivo do presente estudo foi realizar uma análise espacial exploratória da morbimortalidade ocasionadas pela COVID-19 e da privação sócio material em Florianópolis/SC. Para isso foi levado em consideração os dados em relação à COVID-19 disponibilizados no site da Prefeitura Municipal de Florianópolis, bem como os dados do Índice de Privação Sócio Econômica (IPSE) de Oliveira (2018) em relação à privação nos territórios adstritos dos Centros de Saúde. Foi realizada análise descritiva das variáveis no software Excel® versão 2010, analise espacial pelo software Qgiz®, autocorrelação espacial pela técnica de Moran Global Univariado e Moran Local Bivariado pelo software Geoda®, e calculada a razão de chance de contaminação e óbito por COVID-19 na calculadora online OpenEpi®. Foram confirmados 41.983 casos da COVID-19 em Florianópolis, em 2020. Desses 53% eram do sexo feminino, 88% se declararam brancos, 44% tinha idade entre 20 e 39 anos, 65% realizaram o teste diagnóstico tipo RT-PCR. As comorbidades mais frequentes foram doença cardíaca crônica (585), diabetes (362), e doença respiratória descompensada (187). Os sintomas mais frequentes foram tosse (9.581), seguida de dor de garganta (9.391) e de dispneia (5.308). Evoluíram para óbito 318 pessoas. A análise espacial exploratória resultou no índice de Moran Global de 0,171 para análise dos casos da COVID-19, -0,059 para os óbitos e de 0,032 para os valores de IPSE, ou seja, significância baixíssima. A análise do Moran Local bivariado resultou em autocorrelação com significância baixíssima e inversa, tanto para casos e IPSE (-0,119) quanto para óbitos e IPSE(-0,110). O calculo da razão de chances para os casos da COVID-19 em relação à privação sócio material aferida pelos quintis do IPSE, utilizando como referencia o quintil de menor privação (Q1), demonstrou valores significativos para os quintis Q2, Q3 e Q5, respectivamente OR 0,904 p>0,0001, 0,718 p>0,0001, e 0,767 p>0,0001, ou seja, quem
pertence aos quintis mais privados apresentou menor chance de adoecer. Já o cálculo da razão de chances para os óbitos decorrentes da COVID-19 em relação aos quintis do IPSE, utilizando também o quintil de menor privação como referencia, não foi siginificativo estatísticamente, não apontando diferença nas comparações realizadas. Os resultados levantados parecem ter sido influenciados pelo curso da pandemia no país, que chegou por meio das classes sociais mais privilegiadas, com uma maior disseminação nos territórios menos privados das cidades; pelas estratégias de mitigação que foram instituídas em Florianópolis, principalmente nos primeiros meses da epidemia em relação ao distanciamento social; pela subnotificação dos casos, decorrente da pouca testagem pela restrição inicial dos insumos e de problemas no setor de Vigilância em Saúde – defasagem entre os recursos humanos e o volume de trabalho; e ainda pela estrutura e capilaridade da Atenção Primária a Saúde de Florianópolis, reconhecida nacionalmente como um exemplo. O impacto negativo causado pela COVID-19 é de dificil mensuração, assim como a superação da atual crise sanitária, que tem demonstrado afetar mais as populações com maior privação sócio material. |
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