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Em 1971, Germano Celant publicava o seguinte aforismo: “ a tentativa de destruição ou de anulamento ou de dissolução do mito da cultura, como arte, teatro [...], política, filosofia, ciência, lei, história, no uso cotidiano, falhou”[2]. Esta máxima seria sua última menção à arte povera até o fim dos anos 1970. O clima de desilusão que permeava o escrito que seria encarado como uma “nota suicida”[3] do movimento diferia enormemente, porém, daquele expresso em seu manifesto fundador, pouco menos de quatro anos antes. Publicado em novembro de 1967, Arte Povera: appunti per uma guerriglia alinhava-se, em seu tom profético e sua linguagem revolucionária, à atmosfera utópica do que viria a entrar para a história como Maio de 1968. A partir da leitura deste texto-chave, fica evidente que a povertà da arte povera não se dá simplesmente pela utilização de ‘materiais pobres’ – ideia amplamente difundida e simplista, dado que a produção povera não se limita a estes materiais –, mas por um aspecto fenomenológico e comportamental, inspirado no Teatro Povero de Jerzy Grotowski[4], que visava uma aproximação entre arte e vida a partir da redução, ou empobrecimento, das barreiras entre impulsos internos e mundo exterior, questionando a ideia da independência da racionalidade em relação à sensibilidade. Deslocando o foco do objeto para a experiência, por meio de uma atitude libertadora, Celant e a arte povera optam pela primazia do sensível, além de posicionarem-se contra a sociedade de consumo e a comoditização da arte. |
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