Title: | A ascensão das sociedades comerciais em Smith e Rousseau |
Author: | Laureano, Roger Gustavo Manenti |
Abstract: |
Esta tese tem como objetivo analisar as filosofias de Jean-Jacques Rousseau e Adam Smith à luz da ascensão, que eles estavam presenciando no século XVIII, das sociedades comerciais. Dialogando com intepretações contemporâneas dos dois autores, e sempre buscando destacar suas semelhanças e diferenças, esta análise se inicia no pensamento antropológico, pois é a partir da compreensão adequada do que eles compreendem por ser humano que conseguimos identificar onde residem, por exemplo, as críticas realizadas por Rousseau às sociedades comerciais, descrevendo-as como uma degradação corruptiva da natureza humana. Ressaltando que Smith compartilhava de muitos dos receios do genebrino, demonstro que, apesar de ser igualmente crítico de muitos elementos das sociedades comerciais, ele acreditava que poderíamos solucionar muitos de seus problemas sem renunciar aos mais óbvios benefícios que o aumento das riquezas gerava. Smith, portanto, apresenta soluções para moldar as sociedades comerciais de acordo com um modelo que possa ser justo e livre, enquanto Rousseau, por outro lado, tinha como objetivo primordial construir alternativas ao mundo mercantil que estava ascendendo, pois considerava-o incompatível com instituições políticas livres e legítimas. Apesar do resultado tão díspar, os dois autores, em suas filosofias, construíram seus valores políticos sob objetivos idênticos, por vezes até mesmo definindo-os da mesma maneira. Isso acontece porque tanto Smith quanto Rousseau foram influenciados por tradições semelhantes de pensamento, em especial, no caso político, o republicanismo, mas encararam os valores herdados pela tradição de maneira distinta; em Rousseau, ao tratar de questões de comércio, há uma grande fidelidade aos valores republicanos, que são reproduzidos de maneira clássica e ortodoxa em suas obras; no caso Smith, contudo, há uma interpretação inventiva e heterodoxa. Apesar de continuar mobilizando muitos conceitos à maneira republicana, o escocês realizou uma inversão na interpretação dos efeitos modernos do comércio. Ele concorda com muitos teóricos clássicos ao afirmar que no passado o comércio destruiu a liberdade de gloriosas repúblicas, como Atenas e Roma, resultando apenas em tirania e servidão. Contudo, no presente (deles), por razões contextuais e históricas, a liberdade não poderia mais ser interpretada, como faz Rousseau, como um objeto de destruição do comércio, mas justamente seu produto, pois foi através dessa prática que os poderes arbitrários que conformavam a tirania feudal ruíram na Modernidade. Dessa maneira, Rousseau e Smith interpretavam o conceito de liberdade de maneira semelhante, mas, ao avaliar de maneira distinta os efeitos do comércio, chegaram a conclusões antagônicas acerca da posição dessa prática em uma associação política justa. A discussão aqui virtualmente realizada entre os dois filósofos apresenta ideias que pavimentaram os debates ideológicos das sociedades capitalistas a partir do século XIX, com a filosofia de Rousseau reverberando no pensamento igualitário mais crítico às estruturas econômicas que se materializaram e as inovações de Smith abrindo caminho para a fundação e consolidação do liberalismo. Abstract: This work aims to analyze the philosophies of Jean-Jacques Rousseau and Adam Smith in the light of the rise - which they were witnessing in the eighteenth century - of commercial societies. Dialoguing with contemporary interpretations of the two authors, and always seeking to highlight their similarities and differences, this analysis begins with anthropological thinking, as it is from the proper understanding of what they perceive as a human being that we can identify where, for example, resides the criticism carried out by Rousseau to commercial societies, describing them as a corrupting degradation of human nature. Pointing out that Smith shared many of Rousseau's fears, I demonstrate that, despite being equally critical of many elements of commercial societies, he believed that we could solve many of its problems without renouncing the most obvious benefits that increased wealth. Smith, therefore, presents solutions for shaping commercial societies according to a model that can be fair and free, while Rousseau, on the other hand, had the primary objective of building alternatives to the rising mercantile world, as he considered it incompatible with free and legitimate policies. Despite the disparate result, the two authors, in their philosophies, built their political values under identical objectives, sometimes even defining them in the same way. This is because both Smith and Rousseau were influenced by similar traditions of thought, especially, in the political case, republicanism, but they viewed the values inherited by tradition differently; in Rousseau, when dealing with trade issues, there is a great fidelity to republican values, which are reproduced in a classic and orthodox way in his works; in the Smith case, however, there is an inventive and unorthodox interpretation. Despite continuing to mobilize many concepts in the republican way, the Scotsman made a reversal in the interpretation of the modern effects of trade. He agrees with many classical theorists in stating that in the past trade destroyed the freedom of glorious republics, such as Athens and Rome, resulting only in tyranny and servitude. However, in the present (of them), for contextual and historical reasons, freedom could no longer be interpreted, as does Rousseau, as a target of the destruction of trade, but precisely its product, because it was through commerce that the arbitrary powers that conformed the feudal tyranny collapsed in Modernity. In this way, Rousseau and Smith similarly interpreted the concept of freedom, but, when evaluating the effects of trade differently, they came to antagonistic conclusions about the position of this practice in a just political association. The discussion here virtually held between the two theorists presents ideas that paved the ideological debates of capitalist societies from the 19th century onwards, with Rousseau's philosophy reverberating in the egalitarian thinking most critical to the economic structures that materialized and Smith's innovations paving the way for the foundation and consolidation of liberalism. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política, Florianópolis, 2021. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/226904 |
Date: | 2021 |
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PSOP0703-T.pdf | 1.187Mb |
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