Associações temporais e bidirecionais entre a atividade física e o sono em adolescentes

Abstract

A prática regular de atividade física, bem como um sono adequado e de qualidade são fundamentais para um desenvolvimento saudável durante a adolescência. Toda via, estudos indicam que os adolescentes vêm dormindo cada vez menos com o passar dos anos, do mesmo modo que vem apresentando volumes baixos de práticas de atividades físicas. Estudos de caráter epidemiológico e ensaios clínicos indicam que estes comportamentos possuem uma ligação entre si, porém nem sempre os resultados encontrados caminham na mesma direção. A maneira de investigar a atividade física e o sono, bem como os métodos utilizados para identificar suas relações, podem implicar em diferentes resultados. Recentemente, estudos vem trabalhando com a ideia de investigar a relação dia a dia entre estes comportamentos, ao invés de utilizar a média semanal, entendendo que esses comportamentos são mutáveis ao longo dos dias. Entretanto as evidências ainda são escassas e em sua maioria, conduzidas em países de alta e média renda. Entender como estes dois comportamentos se relacionam, pode ser de extrema importância, especialmente por ambos serem comportamentos modificáveis através de programas de intervenção, por exemplo. Este estudo teve como objetivo identificar se existe relações entre diferentes indicadores do sono e da atividade física ao longo de uma semana, e testar a direcionalidade desta relação em adolescentes do ensino médio integrado na região da grande Florianópolis, SC. Para isso, foram analisados dados de linha de base do projeto ELEVA, um macroprojeto que iniciou em 2019 e acompanhara estudantes do ensino médio integrado ao técnico até 2022. A amostra foi constituída de adolescentes (ambos os sexos) regularmente matriculados nos três Institutos Federais da região de Grande Florianópolis. Os adolescentes responderam um questionário online de onde foram retiradas as variaveis de ordem sociodemográficas e a sonolência diurna. O peso e a altura dos adolescentes foram aferidos, e o índice de massa corporal calculado. As variaveis relacionadas ao sono (duração, eficiência e horário de dormir) e a atividade física (intensidade leve e moderada-a-vigorosa) foram mensuradas através de acelerômetro, utilizando-se de um protocolo de 24 horas, durante uma semana, com o acelerômetro sendo alocado no punho não dominante dos adolescentes. Os dados foram analisados utilizando-se de uma abordagem longitudinal, através da ferramenta de dados em painel. Foi utilizado de regressões lineares de estrutura fixa para verificar a relação entre atividade física e sono. Esta abordagem possibilita verificar o efeito dentro do sujeito, controlando a variabilidade do efeito do dia e do sujeito. O tempo de atividade física leve (AFL) foi de 250 minutos, enquanto de intensidade moderada-a-vigorosa (AFMV) foi de 35 minutos, sendo que o período da tarde foi o que contribuiu com a maior quantidade. Os adolescentes dormiram em média seis horas e meia, indo dormir por volta da meia noite e com uma eficiência de sono de aproximadamente 87%. Observou-se que dias em que adolescentes praticam mais AFMV contribuem para uma noite de sono mais prolongada, efeito que ainda é maior se a prática acontece pela manhã. Essa mesma relação foi observada em avaliando a AFL, porém observou-se que a prática noturna contribuía para a redução do sono. Apenas a prática de AFL foi associada com a eficiência do sono, e apenas quando praticada no período matutino. O efeito da atividade física no horário de dormir caminhou para a mesma direção independente da intensidade, sendo que uma maior prática no período da manhã está ligada a dormir mais cedo, enquanto durante a noite a dormir mais tarde. Olhando para o efeito do sono na prática de atividade física do dia seguinte, observou-se em dias que o adolescente dorme mais, a prática de atividade física de ambas intensidades é reduzida no dia seguinte. Ainda, quanto mais tarde o adolescente dorme, menor é sua prática no próximo dia. Entretanto, foi possível identificar que noites com maior eficiência de sono estão associadas a maior prática de AFL. Os resultados encontrados indicam que a relação entre sono e atividade física é bidirecional. Além disso, as diferentes relações encontradas de acordo com o indicador relacionado ao comportamento investigado, reforça a ideia de olhar para estes de uma maneira mais ampla, não apenas para sua quantidade. Identificar outros indicadores de atividade física além da intensidade, como o tipo de prática, bem como outros indicadores do sono como a latência, podem ajudar a compreender ainda mais a relação destes dois importantes comportamentos para a vida humana.

Abstract: Regular physical activity, as well as adequate and quality sleep are essential for healthy development during adolescence. Epidemiological studies and clinical trials indicate that these behaviors are linked, but the results found do not always go in the same direction. Recently, studies have been working with the idea of investigating the day-to-day relationship between these behaviors, instead of using the weekly average, understanding that these behaviors are changeable over the days. However, evidence is still scarcest especially with sample of adolescents and mostly conducted in high- and middle-income countries. The sample comprised 635 high school students (51.2% girls, 16.33±1.0 years old) from Southern Brazil. A self-reported questionnaire was applied to estimate individual characteristics. Physical activities of different intensities (light and moderate-to-vigorous), and sleep (duration, efficiency and timing) were measured using accelerometers. Data were analyzed using a multilevel model to test temporal associations of nightly sleep duration, onset and efficiency, with moderate-to-vigorous intensity (MVPA) and light physical activity (LPA). The time of LPA was 250 minutes, while MVPA was 35 minutes, with the afternoon period contributing the greatest amount. Adolescents slept an average of six and a half hours, going to sleep around midnight and with a sleep efficiency of approximately 87%. Days with more MVPA and LPA contribute to a longer night's sleep, this effect is greater when practices is performed in morning. LPA practice in night contributed to the reduction of sleep. Only the practice of LPA in morning was associated with sleep efficiency. The effect of physical activity on onset time moved in the same direction regardless of intensity, with greater practice in the morning leading to early onset, while at night to sleeping later. Days with greater sleep duration as well later sleep onset reduced MVPA and LPA in following day. However, it was identified that in nights with greater sleep efficiency are associated with greater LPA practice. The results found indicate that the relationship between sleep and physical activity is bidirectional. Furthermore, the different relationships found according to the indicator related to the investigated behavior reinforces the idea of looking at these in a broader way, not just their quantity. Identifying other indicators of physical activity in addition to intensity, such as the type of practice, as well as other indicators of sleep such as latency, can help to further understand the relationship of these two important behaviors in human life.