Title: | Vozes das pobrezas desde o leste rural de Cuba |
Author: | Vega, Ania Pupo |
Abstract: |
A tese é um convite a refletir sobre a pobreza como fenômeno social em Cuba, no intuito de se juntar a outras vozes que, desde a academia, fraturam os silêncios e silenciamentos sobre o tema. No marco do estudo me proponho a dialogar com vozes da economia e da geografia feminista, assim como dos estudos de gênero, para trazer as categorias gênero e espaço e analisá-las dentre as múltiplas dimensões que configuram a pobreza, fraturando assim as concepções economicistas que têm dominado as abordagens da temática. A intencionalidade de contribuir a preencher o vazio nos estudos sobre pobreza rural, ainda mais aprofundado no leste do país, em que existem os mais baixos índices de desenvolvimento humano, argumenta a pertinência da pesquisa que busca compreender, a partir de uma perspectiva de gênero e de espaço, a configuração da pobreza. Para alcançar este propósito foram desenvolvidas entrevistas narrativas com pessoas do leste rural cubano. A pesquisa constata a autopercepção da pobreza nas pessoas, argumentada a partir das experiências sobre os significados atribuídos ao gênero e ao espaço rural. As análises dos vínculos de gênero e espaço apontam para a compreensão de suas interseções como agravante na estruturação do fenômeno. O predomínio de uma cultura que reproduz traços patriarcais em relação ao lugar das mulheres e dos homens no espaço projeta-se em experiências plurais a partir da confluência de marcadores sociais como a idade, o nível econômico e o status civil, fundamentalmente, que dão conteúdo a essas experiências. O trabalho feito pelas mulheres abarca várias perspectivas para as análises, e dado que as atividades reprodutivas são subestimadas e se naturaliza sua associação ao cotidiano das mulheres, essa dinâmica toda vira invisível e leva à percepção do ?não trabalho? das mulheres, e em um apagamento das suas subjetividades focadas em reproduzir outras vidas. Os vínculos das pessoas com o espaço definem experiências negativas que o tornam no ?não espaço? de vida. Na mistura dessas condições as mulheres, fundamentalmente, percebem que suas vidas acontecem de forma indesejável, e incitam a seus familiares mais jovens a sair dali para fazer suas vidas, o seja, para escapar da ?não vida?. Algumas das ideias que a tese traz convidam a pensar a pobreza em Cuba como um fenômeno estrutural e situado, que requer a gestão do Estado para revertê-lo. Essa problematização contribui para tirar do lugar individual em que o fenômeno é colocado, e desvenda uma estruturação deste a partir das reiteradas e superpostas privações que definem o cotidiano das pessoas e que continua a concentrar, nas mulheres, os maiores impactos negativos e desvantagens. O estudo constata como as pessoas são afetadas diversamente pelo contexto, enquanto as diferenças espaciais/territoriais colocam marcas nos papéis e nas relações de gênero, nos usos diferentes dos espaços e nas experiências individuais. O valor analítico da categoria gênero permitiu (re)pensar o espaço como um marcador das desigualdades, conduzindo a enxergar, a partir dele, outros eixos sociais, além do gênero, povoados de desigualdade como a idade, o nível educacional, o status econômico, não apenas para torná-los visíveis e sim para colocá-los perpassando suas análises. O reconhecimento da pobreza impõe questões que fraturam as utopias que se gestam desde a mudança política e social, as utopias sobre a igualdade, a justiça social, a Cuba Socialista. O discurso sobre a pobreza projeta, em muitos aspectos, um discurso desobediente que, até hoje, não foi incorporado aos discursos políticos e midiáticos oficiais. Abstract: This thesis invites us to reflect on poverty in Cuba as a social phenomenon and to bring together other voices from academia to break the silence and give voice to the silenced about this issue. In the framework of this study, I propose to dialogue with voices from economics and feminist geography, as well as from gender studies, to bring together the categories of gender and space and analyse them within the multiple dimensions that configure poverty, so fracturing the economist conceptions that have predominated in studies on this issue. The intention is that this research contributes to fill the empty space in studies on rural poverty, and in particular in Eastern Cuba, which has the lowest levels of human development, showing the relevance of research that aims to understand the configuration of poverty from a gender and space perspective. To achieve this goal, narrative interviews were conducted with people from rural Eastern Cuba. The research confirms people?s self-perceptions of poverty based on their experiences of the meanings attributed to gender and rural areas. The gender- space analysis contributes to the understanding of its intersections as an aggravating factor in the structuring of the phenomenon. The predominance of a culture that reproduces patriarchal traits in relation to the place of women and men in space is projected in plural experiences from the confluence of social indexes such as age, social economic and marital status, fundamentally, giving content to those experiences. The work of women incorporates several perspectives for the analysis, and given that reproductive activities are underestimated and their association with the daily life of women is naturalised, this invisible dynamic drives the perception of women?s ?non-work?, and of the invisibility of these subjectivities that are centred on reproducing the lives of others. The connection of people to space defines negative experiences and becomes a ?non space? in life. In the interrelation of these conditions, women fundamentally perceive that their life passes in an undesirable way and they encourage their younger relatives to leave to make a better life and so escape from a ?non-life?. Some of the ideas raised in the thesis invite us to think about poverty in Cuba as a structural and situated phenomenon that requires state management to reverse it. This problematisation helps to remove the individual place in which the phenomenon is located and reveals its structure based on the repeated and superimposed deprivations that define people?s daily lives and that continue to concentrate the greatest negative impacts and disadvantages on women. The study corroborates how people are affected differently by their context given the spatial and territorial differences that mark gender roles and relations, as well as the different uses of spaces and individual experiences. The analytical value of a gender and intersectional perspective allows a (re)thinking of space as a marker of inequalities, allowing us to see, in addition to gender, other social axes that are saturated with inequality such as age, educational level, social economic status, not just to make them visible, but to include them as part of the analysis. The recognition of poverty raises questions that fracture the utopias that have been constructed as part of the social and political change, the utopias about equality and social justice, so that the speech about poverty projects many forms, a disobedient speech that until today has not been incorporated into official political and media discourses. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política, Florianópolis, 2021. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/227015 |
Date: | 2021 |
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PSOP0702-T.pdf | 4.306Mb |
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