Pode o animal falar? : um estudo sobre o especismo no jornalismo brasileiro contemporâneo

Abstract

O objetivo desta pesquisa é averiguar como o debate sobre direitos animais permeia o jornalismo, a partir de sua concepção como agente cultural, mediador e ordenador do tempo presente. Procura-se observar, à luz de uma perspectiva não antropocêntrica e não especista, se e como a ?voz? de outras espécies é considerada nas práticas jornalísticas contemporâneas. As matérias selecionadas são analisadas pelos critérios da ?leitura em contraponto?, proposta pelo teórico Edward Said. A leitura do corpus é feita a partir da pergunta: em que medida a perspectiva dos direitos animais está presente em notícias e reportagens em que os direitos animais estão em pauta? Primeiramente, busca-se compreender quais são e o que dizem os textos sobre direitos animais. O Capítulo 1 apresenta um panorama histórico com os principais argumentos desenvolvidos em defesa dos animais no Ocidente. O Capítulo 2 está voltado à primeira parte do corpus, que aborda a cobertura da ?Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos? realizada pela Folha de S. Paulo durante 10 anos (2010-2019). Foram selecionadas para análise 63 das 423 notícias publicadas pelo jornal nesse período. Essa cobertura envolve um debate que se intensificou nos últimos anos: o uso de animais em atividades ?esportivas? e de ?entretenimento?. Ao final, também é analisada uma reportagem sobre rodeios publicada na revista piauí, com o intuito de averiguar se veículos com perfis editoriais distintos abordam um mesmo tema de formas igualmente distintas. O Capítulo 3 é constituído pela segunda parte do corpus, referente à cobertura de uma decisão judicial que proibiu temporariamente a exportação de gado vivo em todo o país. O caso ocorreu em fevereiro de 2018 e levantou intensos debates sobre maus-tratos a animais nesse tipo de comércio. Diferente da primeira parte do corpus, que acompanha a cobertura de um evento regular, esta examina um acontecimento pontual, que suscitou ampla cobertura midiática. São examinadas 171 matérias publicadas por 17 veículos. Forma-se, com esse conjunto de textos, um quadro heterogêneo, o qual possibilitou averiguar a efetiva difusão do debate sobre direitos animais no campo jornalístico. As considerações finais expõem as reflexões suscitadas a partir da análise do corpus, retomando a perspectiva teórica de Said e de outros autores dos estudos decoloniais. São contrapostos os resultados desta pesquisa ao de outras na área de Jornalismo, além de estudos teóricos do campo. Ao final, procura-se refletir de forma mais ampla e aprofundada sobre as práticas jornalísticas como um todo, respondendo à pergunta colocada no título: ?Pode o animal falar??

Abstract: The objective of this research is to investigate how the debate on animal rights permeates journalism, from its conception as a cultural agent, mediator and organizer of the present time. It seeks to observe, in the light of a non-anthropocentric and non-speciesist perspective, whether and how the ?voice? of other species is considered in contemporary journalistic practices. The selected articles are analyzed by the criteria of ?contrapontual reading?, proposed by the theorist Edward Said. The reading of the corpus was guided by the following question: to what extent is the perspective of animal rights present in news and reports where animal rights are on the agenda? First, it was necessary to understand which are those studies on animal rights and what they say. Chapter 1 presents a historical overview with the main arguments developed in defense of animals in the Western World. Chapter 2 focuses on the first part of the corpus, which broaches the coverage of the ?Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos? by Folha de S. Paulo for 10 years (2010-2019). 63 of the 423 news published by the newspaper during this period were selected for analysis. This coverage involves a debate that has intensified in recent years: the use of animals in ?sports? and ?entertainment? activities. At the end, a report on rodeos published by piauí magazine is also analyzed, with the aim of investigating whether vehicles with different editorial profiles address the same theme in equally different ways. Chapter 3 consists of the second part of the corpus, broaching the coverage of a court decision that temporarily prohibited the export of live cattle throughout the country. The case took place in February 2018 and raised intense debates about the mistreatment of animals in this type of trade. Unlike the first part of the corpus, which observes the coverage of a regular event, this one examines a specific event, which elicited broad media coverage. 171 articles published by 17 vehicles are examined. With this set of texts, a heterogeneous picture is formed, which made it possible to verify the effective diffusion of the debate on animal rights in the journalistic field. The final considerations expose the reflections raised from the analysis of the corpus, taking up the theoretical perspective of Said and other authors of decolonial studies. The results of this research are contrasted with others in the academic field of Journalism, in addition to some theoretical studies in the field. At the end, this research seeks to reflect in a broader and deeper way on journalistic practices as a whole, answering the question posed in the title: ?Can the animal speak??