Organização espacial de Araquari/SC: segregação, agentes e processos

Abstract

Analisamos, com enfoque no período 1940-2020, processos determinantes na organização espacial do município de Araquari e as contribuições desses processos na (re)produção de quadros de segregação sócio-espacial. Examinamos relações entre industriários, o mercado imobiliário, grupos sociais ditos excluídos, o Estado e a distribuição espacial das classes sociais no espaço urbano de dois municípios limítrofes e conurbados: Araquari e Joinville, no estado de Santa Catarina. Objetivamos demonstrar como a dinâmica entre esses agentes sociais, ora harmoniosa e ora conflituosa, foi decisiva nos processos de (re)produção do espaço urbano e na formação e consolidação da segregação sócio-espacial entre os dois municípios. A partir da técnica de triangulação, que consiste em observações em campo, entrevistas e análise documental, orientados por um olhar materialista-dialético, analisamos os processos históricos de ocupação desse espaço. Em 1940, Joinville era urbanizada, industrialmente pujante e concentrava as áreas residenciais das elites regionais. Na mesma época, Araquari era predominantemente rural, caracterizada internamente por certa homogeneidade sócio-espacial e habitada por trabalhadores de pequenas propriedades rurais e pescadores. A partir da metade final do século XX, evidenciamos fenômenos de urbanização acentuada em ambos municípios, acompanhado da concentração contínua das camadas de alta renda em determinado setor de Joinville, servido de melhor infraestrutura (técnica e social) e mais oportunidades de consumo. Diametralmente, houve maior concentração da pobreza urbana nas periferias de Joinville e, principalmente, em Araquari, onde há menos infraestrutura técnica e social. A estruturação histórica dessa segregação se deu paulatinamente e foi sendo engendrada por diferentes agentes. Apontamos que elementos de dominação ideológica propagados pela imprensa de alta circulação e a subordinação do Estado aos interesses de industriários, grupos imobiliários e ao capital monopolista internacional, têm consubstanciado processos de segregação sócio-espacial em Araquari e Joinville. Identificamos, ainda, grupos sociais em Araquari que são excluídos das políticas urbanas e são condenados a lutar cotidianamente pelo espaço na cidade e por melhores condições de vida, diante da dominação que ocorre no espaço urbano e da concepção pelo Estado de cidade-mercadoria como princípio político-administrativo.

Abstract: We analyzed, focused on the 1940-2020 period, determinant processes in the spatial organization of the municipality of Araquari and the contributions of these processes in (re)producting frames of socio-spatial segregation. We examined relations between industrialists, real estate market, so-called excluded social groups, the State and the spatial distribution of social classes in the urban space of two neighboring and conurbated municipalities: Joinville and Araquari, in the state of Santa Catarina. We aimed to demonstrate how the dynamics between those social agentes, sometimes harmonious and sometimes conflicting, were decisve in processes of (re)producting the urban space and on consolidating socio-spatial segregation between the two municipalities. Based on the triangulation technique, which consists of field observations, interviews and document analysis, guided by a materialista-dialetical view, we analyze the historical processes of occupation of this space. In 1940, Joinville was urbanized, industrially thriving and concentrated the residential areas of the regional elites. At the same time, Araquari was predominantly rural, characterized internally by a certain socio-spatial homogeneity and was inhabited by workers from small rural proprieties and fishermen. From the late half of the twentieth century onwards, we have seen marked urbanization phenomena in both municipalities, accompanied by the continued concentration of high-income groups in a certain sector of Joinville, served by better infrastructure (techincal and social) and more consumption opportunities. Diametrically, there was a greater concentration of urban poverty in the perfipheries of Joinville and, mainly, in Araquari, where there is less techical and social infrastructure. The historical structuring of this segregation took place gradually and was being engineered by the dominant social strata. We point out that elements of ideological domination propagated by the high circulation press and the subordination of the State to the interests of industrialists, real estate groups and international monopoly capital, have embodied processes of socio-spatal segregation in Araquari and Joinville. We also identified social groups in Araquari that are excluded from urban policies and are condemned to struggle daily for space in the city and for better living conditions, in view of the domination that occurs in urban space and the conception by the State of commodity-city as a political-administrative principle.