Lei Agrária e Revolta dos Ciompi: teoria do conflito civil na república de Maquiavel

Abstract

A pesquisa trata do papel dos conflitos sociais no republicanismo de Maquiavel, tal como esse tema aparece em duas de suas duas grandes obras: Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e História de Florença. A partir dos debates fomentados pelas Leis agrárias, presente nos Discorsi, e os desdobramentos da Revolta dos Ciompi, nas Istorie, analisa-se a forma como Maquiavel retratou esses conflitos. Fundamentado no diagnóstico da inevitabilidade das discórdias, o florentino rompe com a tradição humanista, apontando que a desunião entre a plebe e o senado foi a causa da liberdade romana. Mas a Lei Agrária o desafia. Ora foi necessária para frear as ambições dos grandes, ora foi a causadora da destruição da república. Soma-se a isso a forma como Maquiavel conduz os relatos da Revolta dos Ciompi, analisada por alguns intérpretes do florentino como um divisor de águas na reflexão maquiaveliana sobre o conflito social. Para esses intérpretes, as intenções da plebe e o surgimento neste setor social do desejo de dominar, típico dos Grandi, constituem forças causadoras da corrupção da república florentina. A tese tem como objetivo criticar e refutar essa interpretação.

Abstract: The research deals with the role of social conflicts in Machiavelli?s republicanism, as this theme appears in two of his two great works: Discourses on the first decade of Tito Lívio and History of Florence. Based on the debates fostered by the Agrarian Laws, present in the Discorsi, and the developments of the Ciompi revolt, in the Istorie, we analyze the way in which Machiavelli portrayed these conflicts. Based on the diagnosis of the inevitability of disagreements, the Florentine breaks with the humanist tradition, pointing out that the disunity between the commoners and the senate was the cause of Roman freedom. But the Agrarian Law challenges him. Now it was necessary to curb the ambitions of the great, now it was the cause of the destruction of the republic. Added to this is the way in which Machiavelli conducts reports of the Ciompi revolt, analyzed by some interpreters of the Florentine as a watershed in Machiavelli?s reflection on social conflict. For these interpreters, the intentions of the commoners and the emergence in this social sector of the desire to dominate, typical of the Grandi, are forces that cause corruption in the Florentine republic. The thesis aims to criticize and refute this interpretation.