Promovendo a independência na demência: estudo de viabilidade de uma proposta de atenção psicossocial para promover a independência de idosos com demência

Abstract

Este trabalho teve como objetivo analisar a viabilidade da implantação de uma proposta de atenção psicossocial de promoção de independência de idosos com demência, acompanhados em uma unidade ambulatorial do Sistema Único Saúde (SUS). Para tanto foi realizado um estudo de viabilidade quali-quantitativo, prospectivo e randomizado. A coleta de dados ocorreu no período de agosto de 2019 a abril de 2020 no município de Palhoça - SC. A população de referência foram idosos com diagnóstico de demência e seus familiares/cuidadores, atendidos no Ambulatório da Memória, situado na Policlínica Municipal de Palhoça- UNISUL. Os dados foram coletados por meio de um questionário estruturado com informações socioeconômicas, testes de funcionalidade global, qualidade de vida, cognitivos e psicossociais, todos validados a nível nacional. No período de recrutamento foram considerados recusas os indivíduos que não aceitaram participar do estudo; e perdas os indivíduos que não foram localizados, que estavam institucionalizados e os falecidos. A análise de dados foi realizada através de estatística descritiva incluindo os indicadores de viabilidade: taxas de recrutamento, de adesão e satisfação. As características sociodemográficas e clínicas foram descritas nos dois grupos através de frequência relativa. Para a análise de dados qualitativos, utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. A proposta de atenção psicossocial mostrou-se viável, conforme indicado pela adesão dos participantes (85,0%). A taxa de abandono foi baixa ao longo do estudo, bem como a falta de relatos de efeitos adversos. Foi altamente apreciado pelos participantes (taxa de satisfação 100,0%), pois atenderam às suas necessidades para superar as dificuldades cognitivas e de isolamento social. Os participantes demonstraram motivação e expressaram o desejo de continuar participando da proposta após término do estudo. Um ponto importante do estudo foi o recrutamento (55,0%), devido o vínculo dos usuários com a unidade de saúde e equipe multiprofissional. A motivação dos participantes em aderirem a proposta de atenção psicossocial relaciona-se não somente ao vínculo, mas também ao engajamento e comprometimento da equipe de trabalho, do idoso e do familiar/cuidador. A implementação de uma proposta de atenção psicossocial é viável nos mais diversos níveis de atenção à saúde do SUS, uma vez depende de poucos recursos financeiros e não há necessidade de espaço físico equipado para a prática. Não foi possível mensurar os benefícios clínicos da proposta de atenção psicossocial. No entanto, com base neste estudo, esta proposta se mostrou uma forma útil e relevante para proporcionar independência do idoso com demência, uma vez que houve alta adesão as atividades propostas e melhoria da interação social. Como contribuição para a saúde pública, este estudo pode ser considerado uma forma de reorganização da atenção primaria e média complexidade em saúde, indicando propostas de tratamento de caráter não medicamentoso para promoção de independência, educação em saúde e qualidade de vida para idosos com diagnóstico de demência.

Abstract: This study aimed to analyze the feasibility of implementing a proposal for psychosocial care to promote the independence of elderly people with dementia, followed up in an outpatient unit of the Unified Health System (SUS). Therefore, a qualitative, quantitative, prospective and randomized feasibility study was carried out. Data collection took place from August 2019 to April 2020 in the city of Palhoça - SC. The reference population were elderly people diagnosed with dementia and their relatives/caregivers, attended at the Memory Clinic, located in the Municipal Polyclinic of Palhoça-UNISUL. Data were collected through a structured questionnaire with socioeconomic information, global functionality, quality of life, cognitive and psychosocial tests, all nationally validated. During the recruitment period, individuals who did not accept to participate in the study were considered refusals; and losses to individuals who were not located, who were institutionalized and the deceased. Data analysis was performed using descriptive statistics including viability indicators: recruitment, adherence and satisfaction rates. Sociodemographic and clinical characteristics were described in both groups using relative frequency. For the analysis of qualitative data, Laurence Bardin's Content Analysis technique was used. The psychosocial care proposal proved to be viable, as indicated by the participation of the participants (85.0%). The dropout rate was low throughout the study, as was the lack of reports of adverse effects. It was highly appreciated by participants (100.0%) satisfaction rate, as they met their needs to overcome cognitive difficulties and social isolation. Participants demonstrated motivation and expressed their desire to continue participating in the proposal after the study is completed. An important point of the study was the recruitment (55.0%), due to the users' link with the health unit and the multidisciplinary team. The motivation of the participants to adhere to the psychosocial care proposal is related not only to the bond, but also to the engagement and commitment of the work team, the elderly and the family member/caregiver. The implementation of a psychosocial care proposal is feasible at the most diverse levels of health care in the SUS, since it depends on few financial resources and there is no need for a physical space equipped for the practice. It was not possible to measure the clinical benefits of the psychosocial care proposal. However, based on this study, this proposal proved to be a useful and relevant way to provide independence for the elderly with dementia, since there was high adherence to the proposed activities and improvement in social interaction. As a contribution to public health, this study can be considered a form of reorganization of primary care and medium complexity in health, indicating non-pharmacological treatment proposals to promote independence, health education and quality of life for elderly people diagnosed with dementia.