A "amnésia intencional" em relações internacionais: colonialidade, branquitude e a educação das relações étnico-raciais nos cursos de graduação em Santa Catarina

Abstract

As Relações Internacionais (RI) enquanto disciplina foram oficialmente inauguradas no pós Primeira Guerra Mundial. Seu mito de origem afirma que o interesse pelo estudo do internacional surge a partir do flagelo da guerra e da preocupação em compreendê-la e evitá-la. Críticas ao campo, porém, afirmam que há mais nesta origem do que o discurso oficial conta, e destacam o eurocentrismo e o papel do racismo na construção da narrativa da área, de seus cânones teóricos e de sua história. Implementadas no Brasil na década de 1970, as RI hoje estão sujeitas a um amplo movimento nacional de descolonização dos currículos, oficializado a partir da implementação da Educação das Relações Étnico Raciais em 2003, e que visa, dentre outros, combater o privilégio epistêmico da branquitude nos espaços educacionais. Este movimento, se implementado de forma plena, tem a capacidade trazer para o seio da disciplina os trabalhos e discussões que criticam o caráter colonial de sua construção. A partir do estudo de caso de três cursos de Relações Internacionais catarinenses, a presente dissertação tem como objetivo identificar as limitantes estruturais à plena inserção da Educação das Relações Étnico Raciais no ensino das RI em Santa Catarina Por meio dos levantamentos feitos, o trabalho aponta a predominância branca, masculina e do Norte na composição dos planos de ensino dos cursos e a baixa presença de críticas às questões raciais que permeiam a área. A partir disso, sugere, em caráter exploratório, algumas reflexões sobre a formação da/o internacionalista brasileira/o em um contexto no qual as temáticas da Educação das Relações Étnico Raciais estão em sua maioria ausentes.

Abstract: International Relations (IR) as a discipline was officially inaugurated after the First World War. Its origin myth states that the interest in the study of the international arises from the scourge of war and the concern to understand and avoid it. Critics of the field, however, claim that there is more to this origin than what the official discourse tells, and highlight Eurocentrism and the role of racism in the construction of the area's narrative, its theoretical canons, and its history. Implemented in Brazil in the 1970s, IR today are subject to a broad national movement of decolonization of curricula, made official after the implementation of Education of Ethnic Racial Relations in 2003, which aims, among others, to combat the epistemic privilege of whiteness in educational spaces. This movement, if fully implemented, can bring to the heart of the discipline the works and discussions that criticize the colonial character of its construction. Based on the case study of three courses in International Relations in Santa Catarina, this dissertation aims to identify the structural limitations to the full insertion of Ethnic Racial Relations Education in the teaching of IR in Santa Catarina. The research points to the predominance of whites, males, and the North in the composition of the courses' teaching plans and the low presence of criticism of racial issues that permeate the area. From this, it suggests, in an exploratory nature, some reflections on the formation of the Brazilian internationalist in a context in which the themes of Education in Ethnic Racial Relations are mostly absent.