Moderadores e mediadores do efeito do exercício sobre a dor e funcionalidade de mulheres com dor patelofemoral: uma análise exploratória acerca da atividade mioelétrica

Abstract

O presente estudo tem por objetivo identificar a presença de fatores moderadores no tratamento da dor patelofemoral (DPF) por meio de diferentes abordagens de exercícios, e verificar se mudanças na atividade mioelétrica durante o agachamento podem ser consideradas mediadoras da redução da dor e aumento da função autorrelatada. Para isso realizamos uma análise exploratória com 39 mulheres com DPF, comparando três protocolos de exercícios para tratamento da DPF: exercícios de agachamento (n=14), abdução do quadril (n=11) ou exercícios para o core (n=14). O desfecho primário foi a dor após 12 semanas de tratamento, medida pela NPRS (escala numérica da dor) e o desfecho secundário foi a função, medida pela AKPS (escala para dor anterior no joelho). Um possível papel moderador foi investigado considerando-se o protocolo de exercícios realizados e os dados basais: dor (pontuação da NPRS), função (questionário AKPS ? pontuação total) e questionário do índice de função (QIF - pontuação). A análise de mediadores incluiu variáveis relativas à atividade mioelétrica, avaliadas durante o teste de agachamento: magnitude de ativação dos músculos vasto medial (RMS VM), lateral (RMS VL) e do glúteo médio (RMS GMed); ativação simultânea entre os músculos vastos (COVM/VL); diferença no tempo de início da atividade mioelétrica dos músculos vastos (ATRASO VM/VL); tempo do início ao fim da ativação de VM (DUR VM) e VL (DUR VM). Ao final das 12 semanas de tratamento todos os grupos apresentaram mudança significativa na dor autorrelatada. A melhora da função se mostrou dependente do grupo de exercício, o grupo que realizou agachamentos demonstrou mudanças superiores aos grupos que realizaram abdução do quadril ou exercícios para o core de acordo com as pontuações totais do questionário AKPS (p=0,023; n2p= 0,1). Esse resultado pode estar relacionado à maior complexidade do movimento do agachamento, por se tratar de uma tarefa multiarticular semelhante às tarefas de vidas diária. Em relação às pontuações basais da AKPS, NPRS e QIF não foi observada nenhuma interação com os desfechos dor ou função. Observamos diminuição na COVM/VL (p=0,014) e aumento da DUR VM (p=0,001) e DUR VL (p=0,014) após o tratamento. Para o grupo que realizou agachamentos além dessas mudanças, houve ainda uma redução na COVM/VL (p=0,008), redução do ATRASO VM/VL (p=0,048) e aumento da duração de ativação dos músculos vastos, DUR VM (p<0,001) e DUR VL (p<0,001). Embora o tratamento tenha apresentado efeito sobre as variáveis mioelétricas, a mudança observada não se correlacionou com a mudança da dor e função ao final do tratamento. Permanece contraditória a relação entre dor patelofemoral e alterações na atividade mioelétrica. Em nosso estudo, observamos um papel moderador do protocol de exercícios sobre a melhora funcional das participantes, estando essa presente somente no grupo de exercícios de agachamento. Em relação a análise de mediação, observamos que apesar da presença de alterações significativas na atividade muscular após a intervenção por exercícios, não existiu relação entre a mudança mioelétrica e a melhora nas variáveis de desfecho analisadas.

Abstract: This study aims to identify the presence of moderating factors in the treatment of patellofemoral pain (PFD) through different exercise approaches and to verify whether changes in myoelectric activity during squats can be considered mediators of pain reduction and increased function self-reported. For this, we performed an exploratory analysis with 39 women with FPD, comparing three exercise protocols for the treatment of FPD: squat exercises (n=14), hip abduction (n=11), or core exercises (n=14). The primary outcome was pain after 12 weeks of treatment, as measured by the NPRS (numerical pain scale) and the secondary outcome was function, as measured by the AKPS (anterior knee pain scale). A possible moderating role was investigated for the muscle focus of the exercises performed in each group and for the baseline data: pain (NPRS score), function (AKPS questionnaire ? total score), and function index questionnaire (QIF ? score). The mediator analysis included variables related to myoelectric activity, assessed during the squat test: magnitude of activation of the vastus medialis (RMS VM), lateral (RMS VL) and gluteus medius (RMS GMed) muscles; simultaneous activation between vastus muscles (VM/VL); the difference in the time of onset of vast muscle myoelectric activity (DELAY VM/VL); time from start to finish (duration) of activation of VM (DUR VM) and VL (DUR VM). At the end of 12 weeks of treatment, all groups showed significant change in self-reported pain. The improvement in function was dependent on the exercise group, the group that performed squats showed greater changes than the groups that performed hip abduction or core exercises according to the total scores of the AKPS questionnaire (p=0.023; n2p= 0, 1). This result may be related to the greater complexity of the squat movement, as it is a multi-joint task similar to daily life tasks. Regarding baseline AKPS, NPRS, and QIF scores, no interaction with pain or function outcomes was observed. We observed a decrease in VM/VL (p=0.014) and an increase in DUR VM (p=0.001) and DUR VL (p=0.014) after treatment. For the group that performed squats in addition to these changes, there was also a reduction in VM/VL (p=0.008), reduction in VM/VL DELAY (p=0.048), and increased duration of activation of vastus muscles, DUR VM (p< 0.001) and DUR VL (p<0.001). Although the treatment affected the myoelectric variables, the observed change did not correlate with the change in pain and function at the end of the treatment. The relationship between patellofemoral pain and changes in myoelectric activity remains contradictory. In our study, we observed a moderating role of the exercise protocol on the participants' functional improvement, which was only present in the squat exercise group. Regarding the mediation analysis, we observed that despite the presence of significant changes in muscle activity after the exercise intervention, there was no relationship between the myoelectrical change and the improvement in the analyzed outcome variables.