Quando ocupar espaço não subalternizado é privilégio branco: uma reflexão sobre os elementos históricos-estruturais que potencializam a permanência majoritária de mulheres negras no trabalho doméstico remunerado.

Abstract

presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como objetivo investigar os processos econômicos, políticos, sociais e ideológicos que mantém o trabalho doméstico com tanta expressão no Brasil e o conforma como um espaço de trabalho ocupado majoritariamente por mulheres negras. As mudanças no mundo do trabalho e na sociedade brasileira com a chegada do trabalho livre, após mais de trezentos anos de escravismo colonial, trouxeram como consequências a marginalização e o abismo social da parcela negra da classe trabalhadora. Tal marginalização foi provocada pela classe dominante, através de medidas que mantivessem o controle ou impedissem pessoas não brancas libertas de participarem da nova estrutura social que se colocava. Mesmo diante da transição do modo de produção escravista para o modo de produção capitalista, mulheres negras continuaram exercendo a atividade de trabalho doméstico por não encontrarem outras funções que as possibilitassem deixá-lo. Nesta perspectiva, este estudo buscou: 1) identificar aspectos da formação social brasileira imbricados na dinâmica do racismo estrutural nesta sociedade; 2) estudar a divisão social, sexual e racial do trabalho para apreender a conformação do mercado de trabalho doméstico remunerado no Brasil; 3) caracterizar o mercado de trabalho doméstico brasileiro a partir de sua conformação sócio-histórica e suas configurações atuais; 4) identificar a dinâmica do racismo e sexismo no capitalismo brasileiro para explicitar a recriação de relações sociais similares às escravistas correspondentes às necessidades da reprodução do capital. O percurso metodológico escolhido para o desenvolvimento das reflexões realizadas se deu através da revisão bibliográfica. O estudo é qualitativo e sua estrutura está organizada de forma a contemplar a dinâmica dos mecanismos ideológicos utilizados pelo sistema capitalista, que mantém a perpetuação dessa mão de obra feminina neste tipo de trabalho, como estratégia de sua própria reprodução.

This Course Completion Paper (TCC) aims to investigate the economic, political, social and ideological processes that maintain domestic work with such expression in Brazil and that it is a workspace occupied mostly by black women. The changes in the world of work and in Brazilian society with the arrival of free work, after more than three hundred years of colonial slavery, brought the consequences of marginalization and the social abyss of the black portion of the working class. The marginalization was caused by the ruling class, through measures that maintained control or prevented non-white people freed from participation in the new social structure that was taking place. Even in the face of the transition from the slave mode of production to the capitalist mode of production, black women continued to carry out the activity of domestic work because they did not find other functions that would make it possible to separate it. In this perspective, this study sought to: 1) identify aspects of Brazilian social formation that are imbricated in the dynamics of structural racism in this society; 2) study the social, sexual and racial division of work in order to understand the composition of the paid domestic work market in Brazil; 3) characterize the Brazilian domestic labor market based on its socio-historical conformation and its current configurations; 4) identify a dynamics of racism and sexism in Brazilian capitalism in order to explain a recreation of social relations similar to slavery, corresponding to the needs of capital reproduction. The methodological path chosen for the development of the reflections carried out took place through a literature review. The study is qualitative and its structure is organized in such a way as to contemplate a dynamic of the ideological mechanisms used by the capitalist system, which maintains the perpetuation of this female workforce in this type of work, as a strategy for its own reproduction.