Abstract:
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Introdução: a sarcopenia é caracterizada pela diminuição de força e qualidade muscular, e o seu desenvolvimento em pacientes oncológicos está associado a piores desfechos clínicos e pior resposta ao tratamento oncológico, além da redução da qualidade de vida. Considerando os impactos nesses pacientes, é importante que o risco de sarcopenia seja rastreado para identificar aqueles que necessitam do diagnóstico. A triagem com o método SARC-F + CC (do inglês: Strength, Assistance with walking, Rise from a chair, Climb stairs and Falls and calf circumference) é proposta, porém as evidências científicas de sua aplicabilidade em ambiente hospitalar ainda são escassas. Objetivo: analisar o impacto do risco de sarcopenia pela aplicação do método SARC-F + CC sobre o tempo de internação e mortalidade em pacientes adultos com diagnóstico de câncer hematológico, internados em um hospital terciário. Métodos: estudo longitudinal, unicêntrico, realizado com participantes adultos com diagnóstico de câncer hematológico admitidos para internação hospitalar. Participantes com diagnóstico de câncer em órgãos sólidos e reinternações não foram considerados elegíveis. Foram excluídos participantes que apresentavam limitações físicas prévias ou que não se encontravam em condições clínicas adequadas, como em quadro de confusão mental e/ou não acompanhados por responsável. Foram coletados dados nas primeiras 72 horas de admissão, referentes a dados antropométricos (peso usual referido, peso atual aferido, altura, circunferência do braço (CB) e da panturrilha (CP)) e clínicos (diagnóstico hematológico, data do diagnóstico e do início do tratamento, recidiva, motivo de internação hospitalar, comorbidades, exames bioquímicos na admissão e infecção por COVID-19). O risco de sarcopenia foi avaliado por meio do método SARC-F + CC, traduzido e validado para o português e acrescido da avaliação da CP. Os desfechos primários foram a mortalidade e tempo de internação hospitalar, e o secundário foi a ocorrência de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Os dados foram apresentados em mediana e intervalo interquartil (IIQ) e prevalência. Foram realizados os testes de Mann-Whitney, qui-quadrado, curva de sobrevivência de Kaplan-Meier com teste log-rank. Para todas as análises, o valor de p < 0,05 foi considerado significativo. Resultados: foram incluídos 30 pacientes com idade mediana de 47 (IIQ 30 - 60) anos, sendo 16 (53,3%) mulheres. A prevalência de risco de sarcopenia foi de 40% (n = 12). O sobrepeso/obesidade
esteve presente em 10 (33,3%) participantes, entretanto, a prevalência de risco de sarcopenia foi maior entre participantes sem sobrepeso/obesidade (55%), comparados aos com sobrepeso/obesidade (10%) (p = 0,024). Em relação à classificação pela CB, dos 15 (53,6%) participantes que apresentavam essa medida inadequada, 9 (60%) foram triados com risco de sarcopenia, comparado a somente 2 (15,3%) rastreados com risco de sarcopenia no grupo com essa medida adequada (p = 0,016). A prevalência de risco de sarcopenia foi maior entre os participantes admitidos por infecção (75%), seguidos de investigação e complicações não infecciosas (50%) e de apenas 14,3% entre participantes admitidos para ciclo de quimioterapia (p = 0,016). Não houve associação entre risco de sarcopenia e os desfechos clínicos de mortalidade, tempo de internação hospitalar, ocorrência de IRAS e necessidade de transferência para UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A probabilidade de sobrevida, realizada por meio do método de Kaplan-Meier e teste log-rank, não apresentou diferença significativa entre os participantes com ou sem risco de sarcopenia (p = 0,599). Conclusão: não foi observada associação entre risco de sarcopenia e desfechos clínicos. No entanto, foi observado que a prevalência de risco de sarcopenia foi maior entre participantes sem sobrepeso/obesidade, com medida inadequada da CB e aqueles admitidos para internação hospitalar devido infecção/quadro febril. |