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Este livro reúne alguns ensaios sobre a literatura italiana do século XX, publicados no exterior ao longo dos últimos dez anos, traduzidos do italiano e, para esta ocasião, revisados e revisitados. A fim de superar o ostracismo do tempo, o qual, mesmo não sendo diluviano, tornou os textos para seu autor uma espécie de filhos esquecidos e irreconhecíveis, foi necessário lançar um novo olhar crítico, agora de fora, sobre eles, em busca do rizoma que os une. É mediante esse expediente que foi possível organizar com suposta coerência a matéria deste volume em torno de uma ideia de literatura de cunho não realista, marcada por uma série de questionamentos que envolvem conceitos como humanismo, historicismo e linguagem. Em suma, discute-se toda uma abordagem antropocêntrica na concepção da arte e da literatura, que encontra seu auge negativo no século passado.
O centro do debate é ocupado por autores pouco ou nada canônicos do panorama literário italiano no Brasil, em particular – mas não só – Alberto Savinio (1891-1952), Guido Morselli (1912- 1973) e Giorgio Manganelli (1922-1990). Como se verá, são eles escritores que fogem de uma caracterização nacional, assim como quebram as fronteiras dos gêneros literários, dialogando de várias formas com as vertentes mais avançadas do pensamento do século XX. O discurso, assim, abarca questões éticas e estéticas, tocando setores que vão da arte à política. Por isso, o que está em pauta é um outro século XX, uma parte sem dúvida menos conhecida e até surpreendente da cultura italiana do século passado.
Justamente por não serem autores e textos muito frequentados por aqui, cabe alertar que boa parte das narrativas e das citações críticas precisaram ser traduzidas nesta ocasião. Outro alerta diz respeito ao fato de que referências e informações sobre autores e obras vão se complementando (raramente repetindo-se) à medida que a leitura avança, motivo pelo qual se sugere que os artigos sejam lidos em sequência. Considerou-se, de fato, redundante apresentar difusamente, fora do contexto específico de cada ensaio, dados relativos à biobibliografia dos autores. Da mesma forma, o arcabouço teórico é muitas vezes retomado, retrabalhado, acrescido, até sob novos olhares, ao longo dos textos. Neste modo, o mosaico só pode se dizer completo no final – ainda que uma leitura instigante é a que sempre fica em aberto. Aliás, a impressão é a de que o tempo tenha acabado por devolver uma obra inesperadamente compacta, o branco entre os ensaios/capítulos não passando de pausas de um mesmo discurso, e os ensaios/capítulos de retomadas das mesmas obsessões. |
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