O futuro das democracias?: diagnósticos e prognósticos pós-2016 em uma perspectiva comparada

Abstract

A ascensão de líderes e discursos antidemocráticos dentro de regimes considerados democracias estáveis tornou-se tema central nas discussões de diferentes áreas da ciência, em especial, após 2016, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América e do referendo pelo Brexit no Reino Unido. Nesse sentido, esta pesquisa debruça-se, em primeiro lugar, sobre algumas obras consolidadas no circuito acadêmico que abordaram o tema nos últimos anos, articulando-as com as variáveis disponíveis pelos dados sobre consolidação democrática do instituto V-Dem. Nesse sentido, os livros selecionados foram de autores que possuem tal tema como eixo central em suas publicações, sendo eles: Pippa Norris, Ronald Inglehart, David Runciman, Manuel Castells, Steven Levitsky, Daniel Ziblatt, Yascha Mounk e Adam Przeworski. Em segundo lugar, conjugadas às argumentações realizadas por tais autores, dezesseis variáveis do debate sobre erosão democrática foram observadas em três países (Brasil, Estados Unidos e Reino Unido) e duas regiões de novas democracias (América do Sul e Leste europeu). O que se observou no levantamento foi notável oscilação dos dados para os Estados Unidos, uma estabilidade no Reino Unido e variações dignas de nota para o Brasil. Em especial, na comparação das regiões de novas democracias, observou-se maior dissipação do apoio democrático para regiões rurais. No geral, as variáveis que mais sofreram alterações no período analisado foram as que demonstram um aumento na mobilização pela democracia e autocracia, assim como um aumento na violência e na polarização políticas. No entanto, tais mudanças não foram suficientes para que se constatasse a fragilidade institucional dos Estados analisados, o que vai de encontro, principalmente, às obras de autores que atestam a ruína de regimes democráticos.

Abstract: The rise of autocratic leaders and their ideas within regimes considered well established has become a leading topic in different scientific areas, especially after Donald Trump?s election and the Brexit referendum, both in 2016. In this regard, this research first analyses six selected books that have discussed the topic in the recent years and then contrasts them with data from the V-dem institute. These six books were intentionally selected based on the authors? long contact with the theme of democratic backslides, them being: Pippa Norris, Ronald Inglehart, David Runciman, Manuel Castells, Steven Levitsky, Daniel Ziblatt, Yascha Mounk and Adam Przeworski. Secondly, sixteen variables were observed in three different countries (Brazil, The United States and The United Kingdom) as well as in two regions known for their young democracies (South America and East-central Europe). We observed a continuation of the turbulence in the United States, stability in the United Kingdom and some important changes in Brazil. When comparing the regions with young democracies we noted an increasing dissipation of democratic support to urban areas. Overall, the variables which changed the most from 2016 to 2020 were the ones that showed a growth in mobilization for democracy along with a rise in political violence and polarization. Nonetheless, these changes were not strong enough to contrast the institutional fragility of the selected countries and regions, going against books that testify for the imminent end of democracies.