Abstract:
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A dor pós-operatória é uma forma comum de dor na prática clínica (cerca de 70% dos pacientes
apresentam dor de moderada a intensa logo após cirurgias), mas o padrão ouro do seu
tratamento (fármacos opioides) possui grande limitação por indução de efeitos adversos
sistêmicos e graves. O fármaco gabapentina também é utilizado por via oral para o tratamento
da dor pós-operatória e para redução do consumo de opioides, mas similarmente causa efeitos
adversos sistêmicos relevantes. Entre as estratégias para evitar efeitos adversos sistêmicos e
melhorar a segurança dos fármacos utilizados para a dor pós-operatória, destaca-se o uso de
analgesia por infiltração de fármacos (p.ex. anestésicos locais) no local da incisão. Assim, o
objetivo do presente estudo foi à investigação pré-clínica da eficácia analgésica e da segurança
da infiltração de gabapentina em modelo de dor cirúrgica em camundongos. A gabapentina (1-
5%) foi infiltrada no período transoperatório de cirurgia de incisão na pele de camundongos
C57/BL6 anestesiados. Foram avaliados parâmetros de comportamentos relacionados à dor e
edema, além de efeitos adversos, nos períodos pré e pós-operatório. A infiltração com
gabapentina preveniu amplamente o desenvolvimento e a manutenção da hiperalgesia, com
duração de 0,25 a 48 horas após a cirurgia. Efeito esse dependente da dose, com efeito parcial
obtido com a dose de 1% e com inibições máximas nas doses de 3 e 5%. Em relação aos
comportamentos afetivos motivacionais, a gabapentina (3%) preveniu amplamente desde 0,25
a 48 horas após a cirurgia. A gabapentina 3% foi capaz de prevenir de maneira muito eficaz o
edema pós-operatório, com efeito, 2 horas após a cirurgia, mantendo-se por até 48 horas.
Verificamos também que o efeito anti-hiperalgésico da gabapentina em fêmeas foi de curta
duração, não sendo mais detectado de 4 à 24 horas após a cirurgia e sendo estatisticamente
diferente do efeito observado em machos nesses tempos. As fêmeas apresentaram redução
significativa do comportamento afetivo motivacional somente 2 horas após a cirurgia, mas com
eficácia menor do que nos machos. Quanto ao edema, curiosamente, a infiltração com
gabapentina em fêmeas aumentou o edema observado 2 horas após a cirurgia. Por fim, buscando
avaliar o possível efeito adjuvante da gabapentina na infiltração com anestésicos locais antes
da cirurgia, associamos uma dose baixa de gabapentina (1%) com o anestésico local
bupivacaína (0,5%). A combinação de bupivacaína 0,5% + gabapentina 1% reduziu a
hiperalgesia e comportamentos afetivo-motivacionais significativamente com efeito precoce e
de longa duração. A combinação de bupivacaína + gabapentina também reduziu o edema 2, 24
e 48 horas após a cirurgia. Em relação aos efeitos adversos, nenhum dos nossos tratamentos
alterou os parâmetros de motores/sensoriais e sangramento. Sendo assim, concluímos que a
gabapentina infiltrada apresentou efeito antinociceptivo e antiedematogênico em modelo de dor
pós-operatória de maneira sexualmente distinta, indicando sua viabilidade como ferramenta
farmacológica útil no manejo da dor pós-operatória. |