Abstract:
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“Entre lá e cá” é uma brincadeira. Não passa de uma brincadeira. E eu levo brincadeiras muito a sério. O responsável pelo impulso de tal jogo foi Bergson, que está presente comigo. Brinco, com ele, de misturar tempos. Carrego tudo e nada em mim, e transito por tempos meus, de outros „alguéns‟ e me monto no meio disso. Fragmentos diversos que se acumulam em mim acabam por cair entre lá e cá. Percorro lugares que reconheço e outros desconhecidos junto de pessoas que nunca vi e, também, de familiares distantes. Do interior de Minas Gerais, na década de 60, acabo me transportando para uma Paris efervescente de 2015. Reconheço meus avós e passeio com eles pelas velhas ruelas da cidade que me acolheu e faz parte de mim. Benjamin acaba aceitando o convite para a brincadeira e se junta a mim e a Bergson, seguido de Kracauer. Acompanhada pelos três senhores, os diferentes níveis da tal brincadeira de misturar tempos me trazem imagens que me preenchem e, de certa maneira, me perseguem. Carregada de imagens e tempos, eu acabo por ficar entre lá e cá. Gosto de pensar que brincadeiras não têm fim. Essa, como as outras, também não tem. Aqui, no papel, ela terá. Mas continua, e vai continuar comigo e em mim. Bergson impulsionou algo que faz, agora, parte do meu cotidiano. O tempo acumulado bate sempre a minha porta. E eu pretendo sempre atendê-lo. Entre lá e cá, a brincadeira vai continuar. |