Abstract:
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O Delta do Rio Tubarão localiza-se na costa centro-sul do Estado de Santa Catarina, disposto sob a planície costeira de sedimentação holocênica, da qual compreende a sub-bacia do Tubarão Baixo, uma subdivisão da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão. Esse delta possui como principal característica sua condição de delta intra-lagunar, considerado como um sistema ativo em relação aos demais deltas quaternários relacionados à desembocaduras fluviais na costa litorânea brasileira. O presente trabalho procura realizar uma análise acerca das alterações ambientais observadas no Delta do Rio Tubarão, através da abordagem metodológica dos geossistemas, buscando destacar as principais transformações na paisagem no decorrer da história natural e social. A metodologia do trabalho compreendeu o uso de séries históricas decenais de imagens de satélite da família Landsat, para o período de 1985 a 2019, com informações de uso da terra disponibilizadas pelo projeto MapBiomas. Os resultados indicam que o Delta do Rio Tubarão é originalmente formado por processos muito recentes, datados ainda no Holoceno. Por esse aspecto, é um sistema muito frágil e de dinâmica muito alta, e apresenta como as primeiras transformações históricas a presença de agrupamentos humanos que constituíram os sambaquis, e mais recentemente a ocupação de povos originários, notadamente, os grupos indígenas Tupi-Guarani e Jê. As alterações ambientais, no entanto, foram mais importantes com os desdobramentos da enchente de 1974 e suas consequências sociais, políticas e econômicas. Neste caso, aponta-se pelo menos três períodos relevantes que impactaram diretamente na reestruturação do geossistema como um todo, sendo: a) a retificação e dragagem do rio Tubarão realizada no final da década de 70; b) a substituição das florestas originais por atividades agropastoris, principalmente os arrozais; c) intensificação do processo de urbanização em ambientes naturalmente frágeis. Em todos os processos mais recentes de alteração ambiental no Delta do Rio Tubarão, o Estado foi o principal indutor das transformações, considerando o financiamento público de obras e o fator de decisão. De modo geral, observa-se que a partir da segunda metade da década de 70, há aumento significativo de áreas agropastoris e urbanizadas, em decorrência de vegetação nativa e de feições deltaicas. De 1985 até 2019 observa-se um aumento de 144% de áreas agropastoris, predominantemente das lavouras de orizicultura. As áreas urbanizadas aumentaram em cerca de 105%, enquanto que as áreas de vegetação nativa ombrófila densa, tiveram uma redução de 51% e as áreas onde não eram observadas grandes intervenções agrícolas, de vegetação baixa e de pouco adensamento, de solos hidromórficos tiveram uma redução de 46%, dando lugar ao agronegócio. Desse modo, o trabalho finaliza com uma proposta de síntese da qual contempla uma visão de fluxos de matérias e energias dentro dos sistemas percebidos nos anos de 1975 e 1986, intercalados entre si pela marcante obra de retificação do rio Tubarão, sendo possível analisá-los de acordo com as alterações da paisagem. Conclui-se, portanto acerca de uma provocação a respeito do futuro da região do delta da perspectiva das mudanças climáticas, que implica diretamente no aumento da fragilidade e dinâmica do geossistema do Delta do Rio Tubarão como um todo. |