Relação entre a resposta aguda e o efeito crônico do exercício resistido dinâmico e isométrico sobre a pressão arterial: uma revisão sistemática com metanálise

Abstract

As doenças cardiovasculares representam a maior causa de incapacidade e mortalidade no mundo e o desenvolvimento dessas doenças está associado a diversos fatores de risco. Ainda assim, o fator de risco mais fortemente associado às doenças cardiovasculares é a hipertensão arterial (HA), uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação e sustentação dos níveis pressóricos em valores = 140/90 mmHg para pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), respectivamente. O tratamento da HA consiste na adoção de medidas para reduzir o risco de futuros eventos cardiovasculares adversos e inclui estratégias farmacológicas, com a utilização de fármacos anti-hipertensivos, e não farmacológicas, que incluem mudanças no estilo de vida. Em relação à mudança no estilo de vida, a prática de exercícios é amplamente recomendada, tendo em vista os seus inúmeros benefícios para diversos desfechos de saúde, incluindo o controle da pressão arterial. Neste sentido, destaca-se a prática de exercícios aeróbios e resistidos, com evidências apontando para efeitos positivos de forma aguda e crônica. Diante dessas evidências, alguns estudos passaram a investigar uma possível relação entre esses efeitos de curto e longo prazo. No entanto, ainda não está claro se, de fato, há uma correlação entre essas respostas, especialmente com o treinamento resistido. Assim, o presente estudo teve como objetivo, investigar, por meio de uma revisão sistemática com metanálise, se a resposta aguda da pressão arterial a uma única sessão de exercício resistido dinâmico ou isométrico está associada às adaptações crônicas decorrentes de um período de treinamento nestas modalidades. As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed, Cochrane Central, SPORTDiscus e LILACS. Foram selecionados ensaios clínicos que incluíram em sua amostra adultos de ambos os sexos, independentemente dos níveis de pressão arterial e estado de treinabilidade, envolvidos em intervenções de treinamento resistido, dinâmico ou isométrico, com duração de, no mínimo, quatro semanas e que tenham avaliado a pressão arterial antes do início da intervenção (baseline), durante e/ou imediatamente após uma sessão de exercício resistido (resposta aguda) e após o término da intervenção (efeito crônico). Além disso, os estudos deveriam fornecer dados de correlação (valor de r) entre a resposta aguda e o efeito crônico. A seleção dos estudos e a extração de dados foi realizada de forma independente por dois pesquisadores. As análises foram realizadas no programa Comprehensive meta-analysis e a significância estatística adotada foi de p < 0,05. Foram encontrados 3.661 estudos nas bases de dados e, ao final de todas as etapas, 13 estudos foram incluídos nesta revisão. Foi identificada uma correlação estatisticamente significativa entre a resposta aguda, avaliado durante o exercício resistido isométrico, e o efeito crônico desta modalidade para a PAS (r = -0,591; IC 95% - 0,846, -0,115; p = 0,018; I2: 11%), porém não para a PAD (0,044; IC 95% - 0,336, 0,412; p = 0,825; I2: 4%). Na análise da relação entre a resposta aguda, avaliado após o exercício resistido dinâmico, e o efeito crônico desta modalidade, foi identificada uma correlação estatisticamente significativa para a PAS (0,599; IC 95% - 0,377, 0,756; p = 0,0001; I2: 0%) e para a PAD (0,571; IC 95% 0,302, 0,755; p = 0,0001; I2: 0%). Assim, conclui-se que a resposta aguda da pressão arterial a uma sessão de exercício resistido está associada às adaptações crônicas deste tipo de treinamento sobre esta variável. O aumento da PAS durante a execução do exercício resistido isométrico e a queda da PAS e da PAD após uma sessão de exercício resistido dinâmico correlacionam-se com a redução destas variáveis após um período de treinamento nestas modalidades de exercício. Tais correlações ocorrem independentemente características relacionadas ao participante (ex: idade, nível de pressão arterial e treinabilidade) ou ao treinamento (ex: intensidade, frequência e duração).

Abstract: Cardiovascular diseases represent the biggest cause of disability and mortality in the world and the development of these diseases is associated with several risk factors. Still, the strongest risk factor associated with cardiovascular disease is arterial hypertension (AH), a multifactorial clinical condition without the elevation and maintenance of blood pressure levels at values = 140/90 mmHg for systolic blood pressure (SBP) and diastolic blood pressure ( DBP), respectively. The treatment of AH consists of adopting measures to reduce the risk of future cardiovascular events and includes pharmacological strategies, such as the use of antihypertensive drugs, and non-pharmacological ones, which include changes in lifestyle. Regarding lifestyle changes, the practice of exercise is widely recommended, given its numerous benefits for various health outcomes, including blood pressure control. Among the recommendations, the practice of aerobic and resistance exercise stands out, with evidence pointing to positive effects in both acute and chronic forms. Given the evidence on the short and long-term effects of exercise on the control of blood pressure levels, some studies have started to investigate a possible association between these effects, with positive results. However, it is still not clear if there is, in fact, a correlation between this information, especially with resistance training. Thus, the present study aims to investigate, through a systematic review, whether the acute blood pressure response to a single session of dynamic or isometric resistance exercise is associated with chronic adaptation resulting from a training period. Searches were performed in PubMed, Cochrane Central, SPORTDiscus and LILACS databases. Clinical trials should include adults of both genders in their sample, regardless of blood pressure levels and trainability status, involved in resistance training interventions, dynamic or isometric, lasting at least four weeks and having blood pressure evaluated before the beginning of the intervention (baseline) , during and/or immediately after a resistance exercise session (acute effect) and after the end of the intervention (chronic effect). Furthermore, studies should provide correlation data (r value) between the acute and chronic effects. Study selection and data extraction were performed independently by two researchers. Analyzes were performed using the comprehensive meta-analysis program and the statistical significance adopted was p < 0.05. The result of the two is presented as a correlation coefficient with a 95% confidence interval, z-value and p-value. It was found 3,661 studies in the databases and at the end of all stages 13 studies were included. The correlation was identified between the acute effect, marked during isometric resistance exercise, and the chronic effect of this modality for SBP (r = -0.591; 95% CI - 0.846, -0.115; p = 0.018; I2: 11%), however not for DBP (0.044; 95% CI - 0.336, 0.412; p = 0.825; I2: 4%). As for the association between the acute effect, evaluated after dynamic resistance exercise, and the chronic effect of this modality, a significant correlation was identified for SBP (0.599; 95% CI - 0.377, 0.756; p = 0.0001; I2: 0%) and DBP (0.571; 95% CI 0.302, 0.755; p = 0.0001; I2: 0%). Thus, it is concluded that the acute response of blood pressure is associated with the chronic adaptation of resistance training on this variable. Correlations occur regardless of age, blood pressure level, trainability level, and other participant-related characteristics. Correlations also occur regardless of intensity, frequency, duration and other training variables.