Perfil da reatividade de preparações gastrintestinais de camundongos em banho de órgãos: uma avaliação comparativa entre estômago, jejuno, íleo, cólon e diferenças sexuais

Abstract

O trato gastrintestinal (TGI) é um sistema complexo, composto por uma sequência de órgãos tubulares que exibem aspectos funcionais específicos. As propriedades contráteis e relaxantes que caracterizam a motilidade desse órgão são reguladas por vários mediadores simpáticos, parassimpáticos, entéricos e hormonais. Apesar do vasto conteúdo de pesquisas sobre os aspectos que regulam o tônus contrátil da musculatura do TGI, a magnitude do efeito de cada mediador nas diferentes regiões do tubo e a modulação dos hormônios sexuais sob as respostas contráteis ou relaxantes ainda permanecem obscuras. Com isso, nossa hipótese é que as respostas a mediadores são diferentes entre os segmentos do TGI e que o perfil de reatividade se difere de forma dependente do sexo biológico. Assim, avaliamos as respostas de contração e relaxamento das porções de corpo gástrico, jejuno, íleo e cólon retirados de camundongos machos e fêmeas. Tiras longitudinais foram montadas em banho de órgãos contendo solução fisiológica, sob temperatura e borbulhamento constante em tônus basal de 0.5 g. Os tecidos foram deixados em repouso por 30 min para avaliação da atividade contrátil espontânea antes de qualquer estimulação exógena. Para os ensaios de reatividade, foram utilizados os agentes contráteis acetilcolina e carbacol e os agonistas relaxantes noradrenalina, dopamina e isoprenalina. Na atividade contrátil espontânea a região do íleo das fêmeas exibiu maior amplitude comparada à porção do íleo dos machos. Quando avaliamos as respostas contráteis iniciais induzida pela concentração única de 30 µM de acetilcolina, as fêmeas demonstraram maior reatividade nas regiões do estômago e cólon, quando comparado aos mesmos segmentos do TGI de machos. Analisamos o perfil de curvas de respostas dependentes da concentração do tipo não cumulativas para acetilcolina, e o cólon dos camundongos fêmeas repetiu o grau aumentado de responsividade, comparado ao cólon de machos. Entretanto, quando avaliamos as respostas frente ao carbacol, não foram encontradas diferenças. Também mostramos diferenças dependentes do sexo para a atividade relaxante da isoprenalina nos segmentos de estômago e jejuno, cujas amostras das fêmeas exibiram reatividade mais acentuada do que as dos machos. As respostas dos segmentos de TGI frente aos mediadores testados se distinguiram em alguns parâmetros. Por exemplo, o jejuno mostrou-se menos sensível aos agonistas muscarínicos, enquanto o cólon foi mais responsivo. Os resultados obtidos confirmam a existência de particularidades quanto à reatividade contrátil e relaxante dos diferentes segmentos do TGI isolados de camundongos machos e fêmeas.

Abstract: The gastrointestinal (GI) tract is a complex system composed of a sequence of tubular organs that exhibit specific functional aspects. The contractile and relaxing properties that characterize the motility of these organs are regulated by various sympathetic, parasympathetic, enteric and hormonal mediators. Despite the vast amount of research on aspects that regulate the contractile tone of the GI muscles, the magnitude of the effect of each mediator on different regions of the tube and the modulation of sex hormones on contractile or relaxing responses remain unclear. We hypothesized that the responses to mediators are different between the GI organs and that the reactivity profile differs depending on the biological sex. Thus, we evaluated the contraction and relaxation responses of the gastric corpus, jejunum, ileum, and colon portions taken from male and female mice. The longitudinal segments were mounted in organ baths containing physiological salt solution under constant temperature and bubbling at a basal tone of 0.5 g. Tissues were allowed to rest for 30 min to assess spontaneous contractile activity before any exogenous stimulation. The contractile stimulus acetylcholine and carbachol and the relaxing agonists noradrenaline, dopamine and isoprenaline were used. In spontaneous contractile activity, the ileum of females exhibited greater amplitude than ileum of males. When we evaluated the initial contractile responses induced by the single concentration of 30 µM acetylcholine, females showed greater reactivity in their stomach and colon regions when compared to the same portions of the male GI tract. We profiled non-cumulative-type concentration response curves to acetylcholine, and the colon of female mice repeated the increased degree of responsiveness compared with the colon of males. However, when we evaluated the responses to carbachol, no differences were found. We also found sex-dependent differences for isoprenaline-induced relaxation in stomach and jejunum segments, whose samples from females exhibited more pronounced reactivity than those from males. The responses of GI tract segments to the tested mediators differed in some parameters. For example, the jejunum was less sensitive to muscarinic agonists, while the colon was the one more responsive. The results obtained confirmed the existence of particularities regarding the contractile and relaxing reactivity of the different segments of the GI isolated from male and female mice.