A "mulher" na antropologia de Tomás de Aquino: arqueologia da diferença sexual

Abstract

A pesquisa apresentada é uma arqueologia filosófica da diferença sexual, partindo do conceito de ?mulher? (mulier, femina) na antropologia de Tomás de Aquino desenvolvida na Suma Teológica. A metodologia utilizada, além da análise e interpretação filosófica do texto, é uma proposta de análise do discurso em chave pós-estruturalista, constituída desde a teoria queer de Judith Butler e arqueologia da ontologia de Giorgio Agamben. A leitura e a aplicação do método indicam que na antropologia tomasiana se encontra a fundamentação ontológica de uma diferença sexual, formada desde a fixação do conceito de mulher. Vê-se ainda que Tomás tenta uma solução de compromisso entre as exigências de sua teologia, a biologia aristotélica e uma ontologia emergente, na qual a diferença sexual é compreendida como finalidade inscrita na natureza humana. A análise dos conjuntos de enunciados dessa teoria demonstra que a formação desse paradigma corresponde às exigências do dispositivo ontológico que opera como os dispositivos ontopolíticos e de gênero. Estes redundam em violência, em exclusão de outras formas de sexualidade e no domínio de uma visão de mundo androcentrada. Compreender esse dispositivo em suas múltiplas dimensões se mostra como condição para torná-lo inoperante, isto é, identificar uma arché da violência e do domínio sobre a vida dos singulares é o primeiro passo para pensar uma outra ontologia que escape ao caráter prescritivo de uma ontologia pretensamente naturalista e descritiva.

Abstract: The research presented in this work is a philosophical archeology of sexual difference, starting from the concept of ?woman? (mulier, femina) in the anthropology of Thomas Aquinas as it is developed in the Summa Theologica. The methodology used, in addition to the analysis and philosophical interpretation of the text, is a form of discourse analysis in a post-structuralist key, constituted from the Queer Theory of Judith Butler and the archeology of ontology of Giorgio Agamben. The reading and application of the method indicate that in Tomasian anthropology one finds the ontological foundation of a sexual difference, formed since the establishment of the concept of woman. It can also be seen that Thomas tries to find a compromise solution between the demands of his theology, Aristotelian biology and an emerging ontology, in which sexual difference is understood as a purpose inscribed in human nature. The analysis of the sets of statements of this theory demonstrates that the formation of this paradigm corresponds to the requirements of the ontological dispositive that operates as the onto-political and gender dispositives. These result in violence, exclusion from other forms of sexuality and the domination of an androcentric worldview. Understanding this dispositive in its multiple dimensions is shown as a condition to make it inoperative, that is, identifying an arché of violence and dominion over the lives of individuals is the first step to think about another ontology that escapes the prescriptive character of an ontology purportedly naturalistic and descriptive.