Abstract:
|
A produção capitalista tem relação direta com a urbanização e a di nâmica das áreas centrais das cidades ocidentais ao longo da história. Devido
a divisão do trabalho ocorrida no início do século XIX, com a Revolução In dustrial, acarretou no adensamento e na multifuncionalidade dos centros ur banos. Além da função residencial, do comércio e religião que instalaram-se,
nestas localidades, todos os tipos de serviços e de atividades queriam usufruir
de melhor acessibilidade e frequência.
Contudo, ao final do século XIX novas formas de organização se
impuseram, tanto em relação ao tempo quanto em recursos, o que acabou
refletindo em uma nova conformação de cidades. Em meados da segunda
metade do século XX este modelo de centralidade entra gradativamente em
declínio, possibilitando com que novos tipos de organização mais flexíveis e
integradas apareçam.
Vistos antigamente como lugares primordiais das cidades, palco das
questões sociais, da administração e do comércio, as áreas centrais assumi ram posição de destaque nos últimos tempos, em função de sua deterioração
decorrente da expansão da mancha urbana em direção a periferia, dos pro blemas relacionados à acessibilidade e mobilidade urbana e da conformação
de novas redes de subcentralidades.
Essa deterioração é oriunda de dois fatores do processo de urba nização do século XX. O primeiro se refere a um crescimento acelerado nos
últimos 50 anos em diversas cidades, a se destacar em países subdesenvol vidos frente a migração campo-cidade. O segundo, às políticas públicas para
descentralização e expansão das cidades para a periferia, que visava o desa fogamento dos grandes centros e a estimulação e ocupação de novas áreas,
contudo o que ocorreu foi um processo de esvaziamento e degradação des ses centros, principalmente em horários fora do turno de trabalho.
Esse cenário resultou na subutilização de recursos disponíveis nas
áreas centrais; no adensamento populacional de baixa renda em áreas distan tes dos locais de trabalho e não atendidas por infra-estrutura e na concen tração de atividades econômicas em regiões de especulação imobiliária. Com
isso temos um crescimento urbano que busca pela separação das diferentes
classes sociais no território além da má utilização dos recursos públicos exis tentes demandando pela ampliação de infra-estrutura e de serviços públicos
para áreas antes não ocupadas.
Embora as áreas centrais tenham sido transformadas em sinônimo
de desuso e degradação, conseguem ainda manter-se como locais privilegia dos e marcantes em termos de valores históricos e culturais. Olhar para os
centros urbanos consolidados implica em reconhecer sua espacialidade, os
vestígios urbanísticos e arquitetônicos transmitidos ao longo de épocas e a
necessidade de promover a manutenção da história, do espírito do lugar, da
inclusão social e da preservação do patrimônio material.
As cidades e suas respectivas áreas centrais possuem um vasto in teresse territorial de seus agentes produtores, consumidores e gestores do
espaço urbano e, portanto, a intervenção nelas é extremamente complexa.
A importância e a necessidade de requalificar determinadas centralidades de
interesse histórico-cultural atenta para que as mesmas possam ser repen sadas a fim de tornarem-se mais ativas, vibrantes e dinâmicas. Ao mesmo
tempo, sugere a possibilidade de recuperação da economia e da qualidade
de vida do local, a fim de que estes possam reinventar-se por meio de novos
usos, da valorização de suas estruturas imobilizadas, desperdiçadas, além de
tornarem-se mais humanos, voltados para novos modos de encontro, vivên cias e experiências.
O presente estudo tem como objetivo propor uma intervenção em
edificação central subutilizada visando a refuncionalização para habitação de
interesse social no Centro de Florianópolis, assim contribuir para a democra tização e otimização do território urbano. A questão da reabilitação de cen tros urbanos vem ganhando cada vez mais importância além de ser bastante
debatida entre diversos estudiosos do meio urbano e da sociedade como
Corrêa (2003), Almeida (2001), Diogo (2004), Vainer et al. (2013), Rojas et al.
(2004) e Villaça (1998) além de despertar interesse dos gestores, políticos,
investidores privados além de habitantes e usuários dessas localidades. Essas
regiões são locais onde, investimentos públicos e privados devem comple mentar-se em prol de um desenvolvimento urbano, social, cultural e econô mico das cidades.
Em se tratar de termos econômicos, fica evidente que existem opor tunidades que não têm sido devidamente contabilizados no cotidiano do
planejamento urbano. A exemplo da utilização dos edifícios abandonados,
construídos em áreas dotadas de uma gama enorme de infraestrutura nos
centros urbanos. As áreas centrais da cidade possuem uma grande vantagem
em comparação às periferias urbanas, pois normalmente contam com uma
melhor oferta de transporte coletivo, vias de transporte individual, infraestru tura urbana, acesso facilitado à equipamentos de educação, saúde, etc.
Neste sentido, a reutilização de edifícios subutilizados dessas re giões urbanas, além de atender as demandas da sociedade por habitação
social, utilizaria a menor quantidade de recursos públicos para fornecimento
de infra-estrutura, além de reciclar e otimizar os recursos existentes. Desse
modo, este trabalho tem como referência o desenvolvimento e como objeto
a melhoria da qualidade de vida da população.
É notório que o Brasil é um país de extrema desigualdade social e de
uma vasta diversidade humana (homens, mulheres, negros, pardos, brancos,
amarelos, etc) que é refletida na sociedade por uma série de preconceitos.
O modo que essas diversidades são tratadas historicamente pela sociedade
é que caracteriza a maneira desumana do processo sociopolítico e cultural
brasileiro. Assim, a política de inserção da moradia, e mais precisamente, mo radia de interesse social nos centros urbanos podem proporcionar admirá veis benefícios sociais, como o de reafirmar e consolidar o uso democrático
desse espaço, permitindo sua ampla acessibilidade, combatendo as formas
de segregação social e defendendo a função social da propriedade, contra a
simples valorização imobiliária. Favorecendo assim, a melhoria da qualidade
de vida da população, além de reduzir os índices de criminalidade e tensões
sociais. |