Medicina tradicional em Guiné-Bissau: conhecer, institucionalizar e integrar no Sistema Nacional de Saúde - implicações na saúde pública

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Medicina tradicional em Guiné-Bissau: conhecer, institucionalizar e integrar no Sistema Nacional de Saúde - implicações na saúde pública

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Title: Medicina tradicional em Guiné-Bissau: conhecer, institucionalizar e integrar no Sistema Nacional de Saúde - implicações na saúde pública
Author: N'bundé, Davi Saba
Abstract: Esta pesquisa objetivou analisar os argumentos e visões de diferentes atores sociais e entidades da sociedade guineense a respeito da institucionalização da Medicina Tradicional em Guiné-Bissau, sua integração junto ao Sistema Nacional de Saúde e suas implicações na saúde pública e na sociedade daquele país, bem como as razões da não integração da mesma, até então. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa na qual o trabalho de campo foi realizado em Guiné-Bissau, em três etapas, entre dezembro de 2017 e setembro de 2021, em que foram entrevistadas, ao todo, 28 pessoas, sendo 21 físicas e 7 representantes institucionais. Foram analisados documentos institucionais e realizadas observações nos ambientes de trabalho dos Curandeiros Tradicionais entrevistados. As informações foram transcritas, organizadas e posteriormente analisadas, utilizando a análise temática, uma das técnicas da análise de conteúdo e a abordagem hermenêutico-dialética de análise de dados qualitativos, em que as falas dos atores sociais são situadas em seus contextos para melhor serem compreendidas. Resultados e Discussão: Há uma distinção entre duas categorias de curadores exercendo a MT em Guiné-Bissau: os CT, nossos entrevistados, que são vistos como possíveis aliados de demônios; e os Djambakusis, que são tratados como aliados de demônios ou os próprios demônios. Os CT entrevistados acreditam que uma possível institucionalização do processo de ensino-aprendizagem e integração do exercício no SNS poderá contribuir significativamente para a quebra dos preconceitos e estigmas atrelados à MT, para promover a valorização daqueles que a exercem, atrair interesse dos jovens para esse exercício e aumentar sua clientela. Os CT admitem a possibilidade de abrir mão de alguns aspectos do processo de ensino-aprendizagem e exercício da MT em Guiné-Bissau, numa construção conjunta com Estado e sociedade civil, desde que isso não cause alterações significativas no modus operandi da MT naquele país. Os representantes institucionais, atores sociais e CT concordam que é necessária, em uma perspectiva afrocêntrica e na visão do mais de 85% dos entrevistados, a institucionalização da Medicina Tradicional e sua integração no Sistema Nacional de Saúde em Guiné-Bissau, porque vai propiciar melhorias na saúde pública do país, principalmente na atenção primária à saúde, a longo prazo. No entanto, os representantes institucionais e alguns atores sociais entrevistados sugerem que sejam apurados as evidências cientificas em relação a eficácia e segurança da Medicina Tradicional antes da sua integração junto ao Sistema Nacional de Saúde. A institucionalização e integração da Medicina Tradicional no Sistema Nacional de Saúde vai configurar uma justiça restaurativa na sociedade daquele país. Os efeitos do longo e o violento processo da colonização europeia em Guiné-Bissau foram e são as principais razões pelas quais a Medicina Tradicional não está institucionalizada e integrada no Sistema Nacional de Saúde naquele país. Conclusão: A desconstrução do pensamento colonial e simultânea reconstrução do pensamento africano na sociedade guineense poderão libertar o país de vários efeitos da colonização que dificultam os nativos a enxergarem o mundo sob suas perspectivas. A aceitação e confiança demostrada pelas pessoas na Medicina Tradicional, enquanto modo de cuidado de saúde-doença, justifica sua institucionalização e integração junto ao Sistema Nacional de Saúde. No entanto, pesquisas especificas são necessárias para identificar a melhor forma como esse processo poderá ser feito sem causar prejuízos e/ou a subordinação de um modo de cuidado de saúde-doença em relação ao outro.Abstract: This research aimed to analyze the documents, arguments and views of different social actors and entities of Guinean society regarding the institutionalization of Traditional Medicine in Guinea-Bissau, its integration into the National Health System and its implications for public health and society in that country, as well as the reasons for its non-integration until then. Method: This is qualitative research in which fieldwork was conducted in Guinea-Bissau in three stages between December 2017 and September 2021, in which a total of 28 people were interviewed, 21 individuals and 7 institutional representatives. Institutional documents were analyzed and participant observations were conducted in the work environments of the Traditional Healers interviewed. The information was transcribed, organized, and then analyzed, using thematic analysis, one of the techniques of content analysis and the hermeneutic-dialectical approach to qualitative data analysis, in which the speeches of social actors are situated in their contexts to be better understood. Results and Discussion: There is a distinction between two categories of healers exercising TM in Guinea-Bissau: the TC, our interviewees, who are seen as possible allies of demons; and the Djambakusis, who are treated as allies of demons or demons themselves. The CTs interviewed believe that a possible institutionalization of the teaching-learning process and integration of the exercise into the SNS could contribute significantly to breaking down the prejudices and stigmas attached to TM, to promote the appreciation of those who practice it, to attract the interest of young people to this exercise, and to increase their clientele. The TCs admit the possibility of giving up some aspects of the teaching-learning process and TM practice in Guinea Bissau, in a joint construction with the State and civil society, provided that this does not cause significant changes in the modus operandi of TM in that country. The institutional representatives, social actors and TC agree that it is necessary, in an Afrocentric perspective and in the view of more than 85% of the interviewees, the institutionalization of Traditional Medicine and its integration into the National Health System in Guinea-Bissau, because it will provide improvements in the country's public health, especially in primary health care, in the long term. However, the institutional representatives and some of the social actors interviewed suggest that the scientific evidence be verified regarding the efficacy and safety of Traditional Medicine before it is integrated into the National Health System. The institutionalization and integration of Traditional Medicine in the National Health System will configure a restorative justice in the society of that country. The effects of the long and violent process of European colonization in Guinea-Bissau were and still are the main reasons why Traditional Medicine is not institutionalized and integrated into the National Health System in that country. Conclusion: The deconstruction of the colonial thinking and simultaneous reconstruction of the African thinking in Guinean society may free the country from several effects of colonization that make it difficult for the natives to see the world from their perspectives. The acceptance and trust shown by the people in Traditional Medicine, as a health-illness care modality, justifies its institutionalization and integration into the National Health System. However, specific research is needed to identify the best way this process can be done without causing harm and/or subordination of one health-disease care mode to another.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Florianópolis, 2022.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/235519
Date: 2022


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