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Na Modernidade, dentre as múltiplas exigências feitas ao corpo, está a ordem de que ele
deve se manter sempre jovem, sinônimo de saúde, bem-estar, beleza, velocidade e produtividade.
O corpo na meia-idade é o diferente da boa forma, na medida em que os sinais do tempo se
intensificam, e as pessoas procuram intervenções sobre o corpo para freá-los, inclusive práticas
corporais. Pesquisas têm sido desenvolvidas na tentativa de extinção das marcas do tempo no
corpo. Por outro lado, algumas áreas têm pensado criticamente neste fenômeno, partindo de
uma concepção de envelhecimento como processo natural da vida. Esta dissertação teve como
objetivo investigar como a produção científica disponível on line desenvolvida nos Programas
de Pós-Graduação Estrito Senso em Educação Física do Brasil vem abordando a meia-idade e
suas relações com o corpo, a saúde e as práticas corporais. Dialogamos teoricamente com alguns
elementos do conceito de biopolítica desenvolvidos por Michel Foucault. Realizamos análise de
conteúdo de duas teses e 17 dissertações. Os dados foram organizados em quatro categorias de
análise: “o corpo em decadência”, “a matematização da vida”, “viver é um perigo?” e “da negação da
experiência”. O material empírico apontou que o interesse do campo ao estudar pessoas na meia-
-idade esteve centrado em analisar os efeitos de programas de exercícios sobre variáveis físicas e
qualidade de vida no trato das temáticas: doenças, fatores de risco e respostas cardiorrespiratórias.
Dezoito pesquisas aproximaram-se da tendência epistemológica empírico-analítica, dialogando
com o positivismo e uma partiu do referencial crítico-dialético, fundando-se no materialismo
histórico-dialético. Evidenciamos poucos estudos com pessoas na meia-idade e as pesquisas encontradas
manifestaram pouca preocupação em apresentar elementos específicos deste momento
da vida, desconsiderando aspectos desta categoria geracional, bem como outras dimensões da
vida humana, centrando o debate do objeto de estudo na materialidade corporal. As pesquisas
apresentaram a meia-idade como um período marcado pela negatividade das mudanças que
ocorrem nas estruturas e sistemas corporais, como um prejuízo à vida e aproximaram os sujeitos
às doenças e à morte. As concepções de corpo e doença foram pautadas em uma visão fragmentada,
expressa pela exclusividade de análise anatomofisiológica e nos trabalhos sobre qualidade de
vida, expressa na divisão dos sujeitos em domínios, os quais não foram percebidos na totalidade.
Identificamos que os fatores considerados importantes para práticas corporais voltadas para
pessoas na meia-idade foram apenas o tipo de exercício, intensidade, frequência e duração das
sessões, impondo aos sujeitos uma condição de esvaziamento da dimensão da experiência. O
desafio central que se apresenta para a Educação Física parece se colocar no plano de devolver ao
sujeito o lugar que merece no âmbito da pesquisa científica. Caberia ao pesquisador, assim, superar
a hegemonia do olhar para dentro e de longe, para que a própria pesquisa se aproxime e auxilie
na compreensão do real, pois, se por um lado, os discursos apresentados no material empírico
foram monolíticos, impessoais e homogeneizantes, a vida das pessoas na meia-idade é plural e
corporalmente imbricada com a realidade de estar no mundo. |
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