O deus do êxtase e o masculino anticristão: um estudo comparado entre as figuras condutoras dos Bacanais e dos Sabás das bruxas

Abstract

A partir de um estudo comparado entre as figuras condutoras dos sabás das bruxas e dos rituais dionisíacos da Antiguidade, busca-se compreender se é possível que os sabás modernos constituam um desdobramento dos ritos antigos centrados na figura de Dioniso. As metodologias aqui utilizadas são a mitologia comparada e a Hermenêutica imaginativa, sendo assim, esta pesquisa encaixa-se na História das religiões. Como aporte teórico serão utilizadas as obras de Carlo Ginzburg, no que diz respeito aos seus estudos sobre a bruxaria da primeira modernidade e os trabalhos de Mircea Eliade, que propõe que os mitos constituem a base para a prática dos ritos. As fontes analisadas são “As Bacantes”, desenvolvida pelo dramaturgo Eurípedes no final do século V a. E.C e o Malleus maleficarum, manual inquisitorial produzido pelos inquisidores Heinrich Kramer e Johanes Sprenger, no final do século XV. No primeiro capítulo, retorna-se a Antiguidade para se observar as múltiplas faces assumidas por Dioniso e seus rituais no mundo greco-romano. No segundo capítulo, o personagem principal é Satã e sua longa história que, nesta pesquisa, estende-se desde a Antiguidade até a Modernidade. No terceiro capítulo, são aproximadas as figuras de Dioniso e Satã, bem como seus respectivos ritos/mitos. Os resultados desta pesquisa indicam que apesar de não se poder traçar uma linha contínua entre o dionisismo e o sabá diabólico, é possível localizar inúmeras similaridades entre ambos os ritos/mitos, bem como as próprias figuras que os conduzem. Se na Antiguidade esses elementos surgem com um caráter religioso, na Primeira Modernidade, eles estão presentes no sabá das bruxas de maneira demonizada, constituindo uma inversão da religião predominante no período.